Título: China passará por um teste interessante ao tentar desacelerar sua economia
Autor: Dyer, Geoff
Fonte: Valor Econômico, 22/04/2010, Internacional, p. A11

BusinessWeek

No início de 2009, quando o índice Dow Jones pairava em torno de 6,5 mil pontos e as economias de EUA, Japão e Reino Unido estavam encolhendo, a China acelerou sua economia. O banco central do país abriu as comportas monetárias e as autoridades financeiras ordenaram aos bancos estatais que ampliassem os empréstimos. Um pacote de estímulo de US$ 586 bilhões montado pelo presidente chinês, Hu Jintao, no fim de 2008, fez afluir ainda mais dinheiro para grandes estatais nos setores de construção civil e energia. Em consequência, a economia chinesa ajudou a impulsionar o crescimento econômico mundial - e agora corre o risco de superaquecimento. O governo anunciou semana passada que o PIB cresceu a uma taxa em torno de quase 12% no primeiro trimestre, contra 8,7% em 2009. Bolhas nos mercados imobiliários nas principais cidades chinesas e um salto de 22,5% em março na medida mais ampla da oferta monetária (M2) são sinais de mau augúrio. "A economia chinesa evidentemente precisa ser desacelerada", diz Isaac Souede, CEO da Permal Asset Management. "A questão crucial é saber se será um pouso suave ou brusco."

Para Amit Midha, presidente da Dell China, "a rapidez da recuperação preocupa".

O hibridismo da economia chinesa, em que elementos de livre mercado coexistem com um Estado de partido único, de enorme influência sobre como o crédito é alocado, está prestes a ser submetido a um teste interessante. Poderá Pequim realmente frear uma complexa economia que movimenta US$ 4,9 trilhões, já que seu poder político vem de proporcionar taxas aceleradas de crescimento? É difícil vender a ideia de austeridade num país que necessita taxas de crescimento em torno de 8% para gerar empregos para os 10 milhões de chineses que entram na força de trabalho a cada ano. Depois dos empurrões diplomáticos de Timothy F. Geithner, secretário do Tesouro dos EUA, Pequim poderá abrandar a ancoragem do yuan ao dólar mediante ampliação da banda de câmbio. No entanto, a China está muito distante de permitir que o yuan seja negociado livremente contra moedas estrangeiras ou de levantar as restrições à movimentação de capitais para dentro e para fora do país por cidadãos e empresas. E o debate sobre a moeda é apenas uma faceta do gigantesco esforço que a China tem pela frente para resolver os problemas estruturais que atormentam sua economia. A liberalização de sua moeda será muito mais fácil quando a demanda doméstica, que hoje corresponde a apenas 36% do PIB, subir para 50%, o nível típico em outras economias emergentes. O consumo interno só crescerá depois que a China liberar seus setor de serviços, fortemente regulamentado, e permitir que maior fluxo de fundos beneficie pequenas e médias empresas, que criam empregos. No mundo empresarial, as estatais nos setores de siderurgia, autopeças e telecomunicações recebem uma parcela desproporcionalmente maior de crédito dos bancos controlados pelo governo. "As empresas estatais continuam a dominar a economia, e o setor privado não tem acesso a alguns setores", diz Fred Hu, diretor-gerente e chairman do Goldman Sachs para a Grande China. "Para deslanchar o vigor da economia chinesa como um todo, precisamos nos engajar em desregulamentação [e permitir que mais empresas privadas possam competir]." Os governos locais exercem poder considerável e também podem facilmente recorrer a agências regionais de bancos controlados pelo governo para obter empréstimos rapidamente. Mas o assunto mais recorrente é a moeda. Geithner e autoridades de comércio europeias argumentam que deixar o yuan valorizar-se mais é tanto de interesse dos demais como da própria China. Um yuan mais forte reduziria efetivamente o preço dos produtos importados denominados em moedas estrangeiras, como petróleo, carros e trigo. Uma valorização e uma moeda chinesa mais forte combateriam o "risco de um superaquecimento considerável na economia", diz Leon Brittan, ex-comissário de Comércio da União Europeia e atualmente vice-presidente do UBS Investment Bank. A China precisará criar alguma política para conter a economia, ou correrá o risco de que os preços no mercado imobiliários despenquem, o que teria ramificações sociais e políticas. E não se enganem: uma crise na China atingiria o fluxo de comércio na Ásia e abalaria países exportadores de commodities, como Austrália e Brasil. (Copyright© 2010 BusinessWeek)