Título: Brasil e Índia se juntam à pressão dos EUA sobre yuan
Autor: Dyer, Geoff
Fonte: Valor Econômico, 22/04/2010, Internacional, p. A11

Financial Times, de Pequim

A China está sofrendo crescentes pressões de países em desenvolvimento para que comece a valorizar sua moeda, o que está criando aliados inesperados para os EUA em sua disputa sobre a política cambial de Pequim. Falando antes da reunião de ministros das Finanças e de presidentes de bancos centrais do G-20 que começa hoje em Washington, os presidentes dos BCs indiano e brasileiro fizeram as mais vigorosas declarações até agora em nome de seus países argumentando em favor de um yuan mais forte. Embora a maioria das pressões públicas sobre a China tenham se originado nos EUA, os comentários evidenciam que algumas economias em desenvolvimento sentem que o atrelamento da moeda chinesa ao dólar impõe custos a suas economias. Henrique Meirelles, presidente do BC brasileiro, disse que a valorização da moeda chinesa é "absolutamente fundamental para o equilíbrio da economia mundial". Ele disse que há "algumas distorções nos mercados em todo o mundo, uma delas é a falta de crescimento e a outra é a China". Duvvuri Subbarao, presidente do Banco da Reserva da Índia disse que o yuan desvalorizado está criando problemas para diversos países, inclusive a Índia. "Se a China valorizar o yuan, isso terá um impacto positivo sobre nosso setor externo", disse o Subbarao. "Se alguns países administram seu câmbio mantendo-o artificialmente baixo, o ônus do ajuste recai sobre alguns países que não administram seu câmbio tão ativamente." Na semana passada, Lee Hsien Loong, premiê de Cingapura, disse ser "de interesse da própria China", com o fim da crise financeira, manter uma câmbio mais flexível. Alguns círculos, na China, rechaçaram as pressões dos EUA por uma moeda mais forte, qualificando-as de distração da verdadeira causa da crise financeira. Todavia, não é tão fácil descartar a crítica de países em desenvolvimento. "Se os ricos e as economias emergentes estão unidos em exortar a China a valorizar sua moeda, será mais difícil desqualificar o pedido como apenas um exemplo da arrogância de uma superpotência", disse Sebastian Mallaby, no Conselho de Relações Exteriores (CFR). A intensificação das críticas às China acontece num momento de relativa calma entre Pequim e Washington, já que analistas assumiram que a China já teria decidido abandonar a paridade. Mas o impacto da política cambial chinesa sobre outros países em desenvolvimento não é clara. Embora diversos desses países tenham visto uma valorização substancial de suas moedas durante o ano passado, o que exerceu pressão sobre suas exportações e os expôs a uma concorrência mais acirrada da China, a recuperação econômica chinesa também lhes deu um impulso, especialmente no caso de seus vizinhos, mas também no caso de produtores commodities, como o Brasil.