Título: Governo prevê deságio de até 8% no leilão
Autor: Goulart , Josette
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2010, Brasil, p. A4

As apostas ontem sobre o vencedor do leilão da usina hidrelétrica de Belo Monte, previsto para acontecer hoje às 10 horas da manhã, se a Justiça assim o permitir, eram quase todas para o consórcio Belo Monte Energia, formado pelas empresas Andrade Gutierrez, Vale, Votorantim e Neoenergia, além de Furnas e Eletrosul. O consórcio chega ao leilão hoje já com contratos fechados de construção e fornecimento, e o histórico de já estar há mais tempo estudando o empreendimento e por isso pode mergulhar mais na tarifa.

O consórcio Norte Energia, liderado pela Bertin, é considerado zebra da disputa pelo pouco tempo que teve para se formar, e pelo fato de as construtoras, lideradas pela Queiroz Galvão e J. Malucelli, não estarem tão familiarizadas com o projeto quanto as empresas contratadas pelo outro consórcio. Mas o Norte Energia deve ir ao leilão fechado com contratos de fornecimento dos chineses, que sabidamente tem preços mais agressivos e podem surpreender.

O governo trabalha com deságio de até 8%, o que levaria a uma tarifa de até R$ 76,40. É um deságio pequeno, levando em conta os praticados no leilão das usinas do Madeira. Mas qualquer deságio no caso de Belo Monte já é considerado lucro pelo governo em função da tarifa-teto já ter um preço apertado, de R$ 83 o MWh. Em Santo Antônio, a Odebrecht mergulhou fundo e fechou a menos de R$ 79,00 contra uma tarifa-teto de R$ 122. De qualquer forma, o governo federal está tranquilo em relação ao leilão pelo fato de ter conseguido formar dois consórcios.

O vencedor do leilão hoje precisa ter uma tarifa até 5% inferior da segunda melhor proposta. Enquanto essa diferença não for atingida ou um dos consórcios não desistir da disputa, o leilão continua acontecendo. Os dois concorrentes já precisam ir com todas as cotações de preços fechadas com consórcio construtor e fornecedor, para que possam ter ideia de até onde podem baixar as tarifas para manter um retorno que considerem adequados.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, disse, na véspera do leilão da usina de Santo Antônio, que iria dormir tranquilo pela qualidade dos consórcios que competiam. Questionado como iria dormir na véspera do leilão de Belo Monte, Tolmasquim disse que também dormiria tranquilo, mas em função do bom preço que estipulou e o fato de existirem dois consórcios para a disputa.

Os dois consórcios terão autoprodutores em sua formação e com isso devem vender apenas 70% da energia no mercado livre. Outros 10% ficam com autoprodutores e até 20% podem ir ao mercado livre. O autoprodutor do consórcio da Bertin é a própria Queiroz Galvão, que tem algumas fábricas de ferro-gusa no Pará e usa muita energia com essa planta. O consórcio Belo Monte Energia tem Votorantim, por meio da Companhia Brasileira de Alumínio, e Vale como autoprodutores. Para a Vale, esse investimento, no momento é mais importante, por já ter fábrica de alumínio instalada no Estado do Pará.

A usina de Belo Monte ficará instalada no rio Xingu, na região da cidade de Altamira, no Pará. Terá capacidade de gerar 11.233 MW, mas na média vai produzir ao ano 4.500 MW médios.