Título: Governo planeja incrementar a extração de lítio
Autor: Fariello , Danilo
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2010, Empresas, p. B6

O lítio, insumo fundamental para baterias, poderá ganhar papel de protagonista na política mineral nacional, se aprovado na forma como foi enviado ao Congresso o novo código regulatório do setor. Por ele, cria-se a figura do mineral estratégico, cujas jazidas conhecidas poderão vir a ser leiloadas pela futura Agência Nacional de Mineração (ANM).

O lítio é visto como mineral estratégico no governo por dois motivos. O primeiro é por sua capacidade de armazenar energia. Atualmente, todos os aparelhos celulares têm baterias com lítio, que são 100% importadas pelo país. A expectativa do secretário de Geologia e Mineração do Ministério de Minas e Energia, Claudio Scliar, é que, com a possibilidade de popularização do carro elétrico, a importância do lítio vai aumentar mais ainda. " Esse mineral poderá ter grande importância para a Humanidade. "

O consultor da Companhia Brasileira do Lítio (CBL), Décio Casadei, explica que o lítio tem uma capacidade única de armazenar energia e por bastante tempo, inigualável por outros componentes minerais. Por isso ele é a matéria-prima mais usada para armazenagem de energia em bateria de eletroeletrônicos.

O outro motivo para o mineral virar estratégico é que há apenas uma grande jazida conhecida com minérios do qual o lítio faz parte no país. Ela está localizada no Vale do Jequitinhonha, região subdesenvolvida no norte de Minas Gerais. Sua exploração hoje é feita praticamente apenas pela CBL, em Araçuaí (MG), mas há potencial para presença de mais empresas. Atualmente, o lítio extraído no país é usado apenas em vidros, cerâmicas e tintas, ou seja, produtos de menor valor agregado do que baterias de aparelhos eletrônicos.

Ainda que subutilizada, a extração do lítio no país já é viável apenas por conta de incentivos federais que sobretaxam a importação do minério in natura. A definição do lítio como mineral estratégico no âmbito do novo Código Mineral, porém, dependerá da ratificação do Conselho Nacional de Política Mineral, a ser criado com as novas leis.

Segundo o Departamento Nacional de Política Mineral (DNPM), em 2007 (último dado disponível), eram estimadas em 10,7 milhões de toneladas as reservas mundiais de lítio, em óxido de lítio contido. Entre os países detentores de reservas, os destaques são a Bolívia (50,5%), o Chile (28,0%) e a China (10,3%). O Brasil tem 1,3% do total estimado. Os Estados Unidos, porém, mantém as informações sobre o mineral sob sigilo há décadas. Na Bolívia, grande parte dessa reserva está sob o deserto de sal de Uyuni e o governo de Evo Morales já destacou que terá cuidados especiais com esse potencial. No Brasil, além do Vale do Jequitinhonha, também há conhecido potencial de extração no Ceará.

Segundo Casadei, se houver oferta de novas áreas para exploração de lítio, há interesse da CBL. " Hoje, as reservas conhecidas permitem uma exploração durante muitos anos. " Se houver incremento da demanda, com carros elétricos, por exemplo, Casadei reconhece que deverá haver uma readequação dessa sua previsão. Mas, para Scliar, do ministério de Minas e Energia, se a exploração do lítio for intensificada, deve haver um natural aquecimento das pesquisas e, portanto, maior probabilidade de se descobrir novas minas.

Na semana passada, a prefeitura de São Paulo e a Renault-Nissan assinaram um entendimento para dotar a Companhia de Engenharia e Tráfego (CET) de uma frota de carros elétricos. Carlos Ghosn, presidente da Renault-Nissan, tem pregado as vantagens ambientais do carro elétrico mundo afora. A princípio, a emissão de gases que afetam o efeito estufa é muito menor em carros elétricos do que em automóveis movidos a gasolina. Também a General Motors (GM) tem feito experiências com carros que utilizam energia elétrica.

No Brasil, devido à possibilidade de uso do lítio na área nuclear, as atividades de industrialização, importação e exportação desses minérios são supervisionadas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). O minério poderá ganhar importância no mundo nuclear se o Brasil começar a gerar energia a partir da fusão de átomos, mas hoje essa exploração só e feita por fissão.