Título: Em troca de maior liberdade de gestão, BC promete rigor ao fiscalizar
Autor: Aline Lima
Fonte: Valor Econômico, 22/04/2010, Finanças, p. C2

de São Paulo

A evolução de um sistema padrão de cálculo de requerimento de capital dos bancos para a ênfase em modelos internos é considerada um caminho sem volta. "As instituições financeiras vão atuar em condições de igualdade com os grupos internacionais", afirma Sérgio Odilon, chefe do departamento de normas do sistema financeiro do Banco Central (BC). Os projetos apresentados pelos bancos terão de passar pelo crivo da área de fiscalização do BC antes de serem postos em prática. Foram estabelecidos requisitos mínimos para os cálculos desses modelos proprietários, de forma a evitar surpresas. De acordo com Odilon, tanto o BC como os bancos estão se preparando para os novos desafios, alocando pessoas e sendo aparelhados tecnologicamente. A permissão para que os agentes de mercado estabeleçam os próprios critérios de gestão de risco não deveria ser motivo de polêmica, na opinião de Rodrigo Barros, consultor da Luz Engenharia. A grande questão, segundo ele, passa pelo monitoramento do regulador. "O BC dá mais liberdade para o banco atuar, porém torna mais rigorosa a fiscalização", afirma. Afinal, o objetivo do acordo de Basileia 2 é premiar as instituições que utilizam metodologias mais sensíveis ao risco e que divulgam, em detalhe, seus processos de gestão e os controles adotados. "Será possível uma sintonia fina entre a gestão de risco do banco, seu porte e a natureza das operações", afirma Odilon. Em tempo: caso os rumores sobre o recrudescimento das regras de risco de mercado, discutidas em âmbito internacional, venham a ser consumados no segundo semestre, o banco que tiver seu próprio modelo de gestão tende a levar vantagem perante aqueles que obedecem ao sistema padrão. "A exigência de reserva para risco de mercado deve subir cinco vezes, enquanto no modelo próprio, a elevação será menor, de quatro vezes", diz Renê Sanda, diretor de gestão de risco do Banco do Brasil (BB). "Hoje, essa economia seria de aproximadamente R$ 300 milhões no BB, embora o banco seja extremamente conservador nas operações de tesouraria." Os benefícios de uma maior alavancagem, no entanto, podem não ser imediatos. "O BC é conservador e essa transição tende a ser gradual", afirma Sanda "Se o modelo dos bancos apontar para uma mudança brusca na exigência de reserva, é provável que essa diferença seja aplicada ao longo de dois, três anos." A confecção de sistemas proprietários de gestão de risco é uma tarefa complexa. Sanda, do BB, conta que, somente para o desenho do modelo de risco de mercado, foi preciso criar cerca de 400 fórmulas. A tendência é que a quantidade de cálculos seja ainda maior no caso de risco de crédito. "A demanda por parte dos bancos é tamanha que estão faltando profissionais de estatística no mercado", diz. Além de possibilitar ganhos de eficiência na alocação dos recursos, os modelos internos de gestão de risco podem ainda ajudar a melhorar a estrutura de concessão de crédito. A ideia é que, no longo prazo, esse ganho de eficiência proporcionado pelo modelo interno de gestão de risco encontre reflexo também nas taxas de juro cobradas dos clientes pessoa física - a exemplo da segmentação de preços já praticadas nos empréstimos concedidos às empresas. Mas a perspectiva de liberação de parte do capital hoje contingenciada parece interessar mais aos bancos de maior porte do que aos menores, especialmente se estes não tiverem atuação destacada na concessão de crédito. "Reduzir em um ponto percentual nosso índice de Basileia não vai produzir o mesmo impacto do que num banco enorme. Tal economia não justifica os gastos com tecnologia e recursos humanos que teríamos de arcar", argumenta Edson Kojo, executivo do banco Fator responsável por risco e compliance.