Título: BB fecha compra do Patagonia
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 22/04/2010, Finanças, p. C3

de Brasília

Depois de meses de negociação, o Banco do Brasil (BB) anunciou ontem a compra do controle acionário do Banco Patagonia, o sexto maior da Argentina. O BB vai pagar US$ 479,6 milhões (cerca de R$ 839,3 milhões) pela instituição, que tem 154 agências e 751,6 mil clientes. O negócio, que foi aprovado pelo Conselho de Administração na última segunda-feira, faz parte da estratégia do banco brasileiro de ter forte presença no exterior. "É o primeiro passo concreto nessa nova etapa de internacionalização do banco", disse ontem o presidente do BB, Aldemir Bendine. Apesar da demora no fechamento do negócio, o Patagonia é um banco modesto quando comparado ao BB. Possui US$ 2,56 bilhões em ativos totais, face a cerca de US$ 404,8 bilhões do banco brasileiro (dados de dezembro de 2009). Sua carteira de crédito soma apenas US$ 1,1 bilhão, 156 vezes menor que a do BB. O volume de depósitos do Patagonia é de apenas US$ 1,6 bilhão, diante de US$ 192,8 bilhões do seu comprador. Já o patrimônio líquido, principal indicador da saúde financeira de um banco, estava em US$ 487,8 milhões em dezembro, face a US$ 20,6 bilhões do Banco do Brasil. O banco federal brasileiro adquiriu 51% do capital do Patagonia. O pagamento será feito em seis parcelas - 5% na assinatura do contrato; 35% no registro das ações na Caja de Valores S/A, a bolsa de valores de Buenos Aires; 30% quando os integrantes da diretoria, indicados em assembleia de acionistas, forem aprovados pelo Banco Central da Argentina; 12% no prazo de 225 dias após a conclusão do negócio; outros 12% depois de 405 dias; e os 6% restantes em 585 dias. Ao comprar o Patagonia, o Banco do Brasil se tornou sócio do governo argentino, que detém, por meio da Administração Nacional de Seguridade Social, o INSS do país vizinho, 14,6% do capital do banco, e do banco italiano Intesa Sanpaolo (SPA), dono de 10,4% das ações. Os 13,4% restantes das ações estão pulverizadas no mercado. Segundo a assessoria do banco brasileiro, o Patagonia tem "características complementares" com o BB, o que teria tornado "interessante" a associação. "O Patagonia é um banco de varejo, que possui presença em todas as províncias da Argentina, enquanto o BB traz sua experiência no desenvolvimento de produtos e serviços para o segmento corporate", disse o Banco do Brasil em nota oficial. A aquisição teria quatro objetivos. O primeiro é ampliar os negócios com empresas brasileiras e argentinas que atuam no país vizinho. A ideia também é diversificar o portfólio de produtos e serviços do Patagonia. A terceira meta é expandir a restrita carteira de crédito do banco argentino, especialmente em operações com companhias brasileiras e com empresas argentinas que atuam no atacado. O quarto objetivo é, segundo o BB, "atuar na cadeia de valor do segmento empresas na Argentina, por meio do atendimento das micro e pequenas empresas, empregados de empresas, fornecedores, etc". Segundo o presidente do BB, o avanço do BB no exterior tem três vetores: a existência de comunidades de brasileiros no exterior; a internacionalização de grandes companhias nacionais e a expansão das relações comerciais do Brasil com o mundo. Onde houver uma dessas condições, assegura Bendine, o BB fincará a sua bandeira. No caso da Argentina, há mais de 200 empresas brasileiras atuando lá, com cerca de 160 mil empregados. O projeto de expansão do Banco do Brasil na América do Sul prevê a presença da instituição em mais quatro países: Peru, Colômbia, Paraguai e Uruguai. O banco também planeja consolidar sua atuação na Europa, por meio da criação do BB Viena, e abrir agências em dois países africanos, que hoje já têm presença de investidores brasileiros - Angola e Moçambique. O grande salto no exterior é esperado no mercado americano, onde vivem cerca de 1,5 milhão de brasileiros. Aproveitando-se da crise que se abateu sobre os Estados Unidos, o BB chegou a avançar as negociações para a compra a rede de agências de um banco europeu naquele país, mas o negócio não foi adiante. As conversas com outras instituições podem avançar, uma vez que, na semana passada, o Federal Reserve autorizou o BB a atuar em seu mercado.