Título: Não há evidências de bolha no Brasil
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 22/04/2010, Finanças, p. C7

de Washington

O Fundo Monetário Internacional (FMI) calcula que o mercado acionário brasileiro é o terceiro mais valorizado do mundo. Mas o organismo não considera que a situação seja muito preocupante nem que seja necessário impor controles adicionais na entrada de capitais. Os economistas do FMI construíram um indicador que, em termos técnicos, mede a relação projetada entre preço e rendimentos das ações nos próximos 12 meses. No caso do Brasil, o indicador está 1,8 desvio padrão acima da média histórica, numa métrica que, quanto mais alto o número, mais valorizado está o mercado acionário. A maior parte dos países está na zona verde, com indicadores menores do que 1,5. O Brasil e a Colômbia (1,9) são as duas únicas economias que estão na zona amarela, que vai de 1,5 a 2, e despertam um pouco mais de atenção. Apenas a Irlanda, com 2,1, está na zona vermelha, que inclui países com mais de 2. Os dados foram apresentados pelo FMI em seu relatório de estabilidade financeira mundial. No texto do documento, o Brasil é apresentado como um "hotspot", ou literalmente um ponto quente, por ter atraído significativos investimentos em carteira. Mas o diretor monetário e de mercados de capitais do FMI, José Viñals, afirma que o Brasil não preocupa. "O Brasil não é um caso onde esses problemas são muito grandes", afirmou Viñals. "Achamos que os valores do mercado acionário estão pouco acima de sua média histórica, mas não estão muito distantes." Segundo o FMI, o Brasil também tem se tornado mais atrativo para operações chamadas de "carry trade". Ou seja, aumentou a recompensa esperada para quem toma dinheiro no exterior, pagando juros baixos, para aplicar dentro do Brasil, onde se recebe juros maiores. O indicador leva em conta não apenas a remuneração esperada nessas operações, mas também o seu risco, medido pela volatilidade nas taxas de câmbio. A conclusão do FMI, porém, é que embora a recompensa para operações de "carry trade" tenha aumentado, ela ainda está abaixo do pico registrado em meados de 2008. Em seus pronunciamentos recentes, o FMI passou a admitir que, em situações muito especiais, os países lancem mão de controles de capitais para fazer frente à excessiva valorização de sua taxa de câmbio ou para evitar que o surgimento de bolhas financeiras, que aparecem quando ativos como ações e títulos estão supervalorizados. Viñals afirma, porém, que o FMI não tem nenhuma recomendação adicional sobre o tema controle de capitais ao Brasil. "As autoridades brasileiras tomaram algumas medidas de controle de capital", afirmou, referindo-se à taxação com Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na entrada de investimentos estrangeiros para ações e títulos públicos. "Não temos nada adicional para recomendar." No seu relatório, o FMI afirma que "não existe evidência do surgimento de bolhas nos países emergentes ou desenvolvidos nas diferentes classes de ativos no futuro próximo". Mas, segundo o organismo, a história mostra que as bolhas podem surgir no médio prazo, se persistir o atual ambiente de baixas taxas de juros nas economias desenvolvidas, liquidez abundante e forte fluxo de capitais. Segundo o FMI, o surgimento de bolhas de preços de ativos, como a supervalorização das ações na bolsa, por si só não cria vulnerabilidade econômicas. O perigo, segundo o organismo, é quando as bolhas são acompanhadas por expansão muito forte do crédito. Ou seja, quando pessoas e empresas tomam dinheiro emprestado para comprar ativos. No caso do Brasil, Rússia, Índia e China, diz o FMI, há recentes sinais de aumentos de preços de ativo financeiros. A crise fez com que o volume de crédito nessas economias caísse, mas não tanto quanto o preço dos ativos e os fluxos de capitais estrangeiros. Se o crédito não diminuir e se os preços dos ativos continuarem a subir, crescem os riscos de crise financeira, alerta o organismo.