Título: Mercosul e países da Ásia alavancam venda externa no 1º bimestre
Autor: Marta Watanabe
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2010, Brasil, p. A9
de São Paulo
A evolução dasexportações brasileiras no primeiro bimestre de 2010 já reflete asperspectivas de recuperação estimadas para as vendas a alguns países eregiões. Nos primeiros dois meses do ano, o valor de todas asexportações brasileiras cresceu 21,3% em relação ao mesmo período doano passado. Para alguns países, porém, o aumento foi maior. Na AméricaLatina, mercado importante para os manufaturados brasileiros, as vendasforam puxadas pelos sócios do Mercosul - 59,8% mais para a Argentina e51,6% para o Paraguai. Para a Ásia, os embarques (em valor) aumentaram29%, com destaque para os básicos (33% de alta) e manufaturados (36%mais). Um dos maiores aumentos foi registrado nas vendas à Índia, que cresceram 206%,enquanto os embarques para a China aumentaram 39,4%. No Oriente Médio,a Arábia Saudita importou 45,9% mais do Brasil, e o Irã, 76%. Sãodiversos os fatores que levaram à recuperação das exportações paraesses países. O desempenho nas vendas para essas regiões está muito acima dos embarquespara a Europa e os Estados Unidos. No primeiro bimestre de 2010, aUnião Europeia comprou 16,62% a mais que no mesmo período do anopassado, enquanto os embarques do Brasil aos Estados Unidos cresceram17,31% - em ambos os casos, abaixo do desempenho geral do período. O economista Fábio Silveira, da RC Consultores,observa que o aumento das exportações à Argentina está relacionado àperspectiva de recuperação do Produto Interno Bruto (PIB), que, apóscair no ano passado, deve crescer em torno de 3,5% em 2010. "As exportações no primeiro bimestre refletem o ritmo de recuperaçãoeconômica dos diversos países. Em alguns locais , mais lento. Emoutros, um ritmo mais acentuado", diz Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados.Ela lembra, porém, que a elevação em relação à Argentina deve-se tambémà base de comparação baixa, já que as compras do país vizinho deprodutos brasileiros caíram mais no início do ano passado em relaçãoaos demais países. No primeiro bimestre de 2009, as exportações doBrasil à Argentina tiveram queda de 48,9%. As vendas totais ao exteriorde mercadorias brasileiras caíram 25,7%. Silveira acredita que, apesar da base baixa, a elevação das exportações para aArgentina é um indicativo de um início de recuperação que deve seespalhar para os demais países da América do Sul, muitos deles comestimativas favoráveis de crescimento do PIB, como Paraguai, Peru eColômbia. "Esse bloco deverá fazer a grande diferença em relação ao anopassado, levando em conta os motores do setor externo." A América Latina, lembra Silveira, é um mercado para os manufaturadosbrasileiros e uma oportunidade de recuperar um pouco a venda de benscom maior valor agregado. Entre os itens que puxaram as vendasbrasileiras aos argentinos estão os automóveis, cujos embarquessaltaram de US$ 176,2 milhões no primeiro bimestre do ano passado, paraUS$ 376,9 milhões nos dois primeiros meses deste ano. Os carrosrepresentaram 14,2% dos valores exportados à Argentina no período. Para André Sacconato, economista da Tendências Consultoria,a Argentina promete ser um mercado mais interessante neste ano, nocurto prazo, do que no longo prazo. "O país tem tomado uma série demedidas fiscais que deverão afetar seu desempenho." "Deforma geral, a situação dos países da América Latina teoricamentemelhorou este ano com o aumento de preços de metais, como níquel, cobree prata, além do petróleo", diz José Augusto de Castro, vice-presidenteda Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). "A questão é aconcorrência dos países asiáticos, embora as perspectivas sejam boas, amenos que aconteça algum imprevisto." No campo dos imprevistos, o Chile é o exemplo dos economistas. "Asestimativas para a economia do Chile iam bem, mas o terremoto deveafetar um pouco, embora o país tenha uma capacidade surpreendente deajuste", diz Sacconato. O impacto, diz, deve se estender para ascompras de produtos brasileiros. No primeiro bimestre, as vendas para opaís aumentaram 28%. Para os economistas, um horizonte mais claro fica por conta da China e daÍndia, cujas economias devem crescer pelo menos 10% e 8%,respectivamente, segundo estimativas da Tendências. As commoditiesdominam a pauta de exportação brasileira para os dois países. No primeiro bimestre, o petróleo fez a diferença nos embarques para aChina. As vendas brasileiras do óleo nos dois primeiros meses de 2010alcançaram US$ 639,9 milhões. No mesmo período do ano passado foram US$90,6 milhões. Nas vendas para a Índia pesou o açúcar, com exportações que passaram de US$109,9 milhões para US$ 256,2 milhões. Para Castro, da AEB, porém, odesempenho do valor de vendas de açúcar não deve se manter. "Os preçosestão caindo e o açúcar não deverá mais ser a sensação das exportaçõesbrasileiras, como se previa." Beneficiados pelo aumento dos preços do petróleo, os países do Oriente Médio tambémchamam atenção no desempenho das exportações brasileiras. Levando emconta todos os países integrantes, o bloco comprou 52% a mais noprimeiro bimestre de 2010, na comparação com o mesmo período de 2009. Ocrescimento fez o bloco ultrapassar o valor de produtos brasileirosadquiridos pela África, excluindo os países do Oriente Médio. Tanto noprimeiro bimestre de 2009 quanto no fechamento do ano passado, asexportações brasileiras para a África foram maiores que as vendas aoOriente Médio. "Trata-sede uma região muito rica mas, em termos de manufaturados, há uma grandeconcorrência da China e do Japão", diz Castro. O bloco, porém, tem sidogrande comprador de commodities agrícolas brasileiras. Dentrodo Oriente Médio, destacam-se países árabes, como Arábia Saudita eEmirados Árabes Unidos. "O item predominante na pauta são as carnes,tanto a bovina quanto o frango", diz Wladimir Freua, vice-presidente decomércio exterior da Câmara Árabe. Levando em conta todos os paísesárabes, informa, a exportação de carne bovina e frango pelo Brasilatingiu US$ 401 milhões no primeiro bimestre de 2010. Em relação aomesmo período do ano passado, o aumento foi de 42% em itens queequivalem a 26% da pauta de exportação brasileira a esse grupo depaíses. Alvo dedebate no último mês, em função da proposta feita pelos Estados Unidosao Brasil para aplicação de sanção, o Irã é outro país do Oriente Médiopara o qual o Brasil exportou no primeiro bimestre mais do que a médiageral. As vendas de produtos brasileiros ao Irã aumentaram 76% noperíodo. O grande item na pauta foram as carnes.