Título: Obama dá clima eleitoral a reforma financeira
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Fonte: Valor Econômico, 23/04/2010, Especial, p. A16

Depois de sair vitorioso na reforma do sistema de saúde, o presidente americano, Barack Obama, joga agora todo o seu peso político na reforma do sistema financeiro. O presidente investe em várias frentes: em críticas públicas à oposição, em pressão sobre os banqueiros e até na formação de uma força-tarefa para tentar agilizar a tramitação da reforma no Congresso. Mas o principal é a retórica contra Wall Street, que parece popular entre os eleitores.

Ontem, diante de uma plateia de banqueiros em Nova York, Obama criticou o que chamou de "esforços furiosos" de Wall Street para tentar barrar regulamentações mais rigorosas no sistema financeiro e disse que se, não adotar mudanças, os EUA estarão condenados a mergulhar em uma nova crise.

"É essencial que aprendamos as lições desta crise, para que não estejamos condenados a repeti-la", disse. "Acredito em um setor financeiro forte que ajude as pessoas a aumentar seu capital, a obter empréstimos e a investir em suas economias. Mas um mercado livre não significa uma permissão para pegar tudo o que podem pegar, de qualquer maneira."

Segundo Obama, a crise financeira foi resultado da "falta de responsabilidade" tanto do governo quanto de Wall Street. Ele disse que as medidas propostas por seu governo melhorariam significativamente a cambaleante estrutura regulatória de hoje, "apesar dos esforços furiosos dos lobistas do setor" para que as novas regras não sejam tão duras.

Obama, que já se referiu aos executivos de Wall Street como "tubarões", disse que alguns dos polpudos pacotes de remuneração do setor financeiro servem como "perversos incentivos para que riscos [sejam tomados de forma] inconsequente".

Mas não são só os banqueiros que estão sendo alvo da pressão do presidente. Obama usou seu programa semanal de rádio no fim de semana para criticar senadores republicanos por se reunirem com executivos de Wall Street a fim de desacelerar o avanço das discussões. Os republicanos afirmam, por sua vez, que Obama está politizando a questão e criticaram a Casa Branca e os democratas por não lhes dar espaço de qualidade no debate.

As dúvidas sobre os rumos da reforma ainda são muitas, tanto entre democratas quanto entre republicanos. Mas os democratas acreditam que já há ambiente para para pôr a reforma em primeira votação já na segunda-feira. Senadores do Partido Democrata, de Obama, no entanto, estão ainda avaliando se incluem as propostas de Obama - apresentadas em janeiro - no projeto que já está tramitando na Casa.

O projeto de reforma financeira, encabeçado pelo senador Christopher Dodd, prevê novos mecanismos de controle sobre fundos de hedge e sobre derivativos.

Além disso cria instrumentos de proteção para os consumidores de produtos financeiros. Estabelece ainda um sistema para evitar que os problemas de empresas em dificuldades financeiras se disseminem pelo sistema como quando do colapso do Lehman Brothers em 2008.

Entre os pontos defendidos por Obama na reforma estão a "Regra Volcker", que impediria os bancos de fazerem operações de tesouraria. O mecanismo leva o nome do ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Paul Volcker, que hoje é um dos conselheiros de Obama. Volcker estava no evento de ontem do presidente com os banqueiros.

A reforma ganhou ainda mais popularidade depois das acusações de fraude que a SEC, comissão de valores mobiliários dos EUA, fez contra o Goldman Sachs na semana passada.

O projeto de reforma faz parte da agenda pré-eleitoral de Obama. Os EUA têm em novembro eleições de meio de mandato para a Câmara e o Senado. Será o primeiro teste das urnas depois da pior recessão em décadas, com a taxa de desemprego encostando nos dois dígitos na maior parte dos Estado país. Além do mais, o grau de desconfiança do americano no governo está em cerca de 80%, segundo uma pesquisa do instituto Pew.

Até esta semana, a maioria democrata no Senado temia sofrer um significativo revés em novembro. Não se sabe o efeito que a reforma poderá ter sobre a eleição.