Título: "Não somos demagogos", diz Dilma, sobre Orçamento
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2010, Política, p. A11

de Porto Alegre

Convidada de honra para a festa de aniversário do pré-candidato do PT ao governo do Rio Grande do Sul, o ex-ministro da Justiça Tarso Genro, a ministra da Casa Civil e pré-candidata do partido à Presidência da República, Dilma Rousseff, afirmou que não utilizará as finanças públicas como "arma eleitoral". "Nós não somos demagogos", afirmou, quando questionada sobre os possíveis prejuízos políticos decorrentes do contingenciamento de R$ 21,4 bilhões no Orçamento da União para 2010. "A arrecadação está crescendo, mas só estamos no terceiro mês (do ano) e precisamos comprovar (a alta das receitas)", afirmou a ministra. Poucos minutos antes, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, também convidado para a festa de Genro, havia afirmado que o corte será "forte" nas emendas parlamentares e também nas despesas de custeio, para preservar os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), além dos gastos sociais em Saúde e Educação. Para a pré-candidata petista, seu provável adversário na eleição de outubro, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), tenta se "desvencilhar" da imagem do governo Fernando Henrique Cardoso quando propõe uma comparação pessoal entre os dois pré-candidatos, e não entre o desempenho das administrações do ex-presidente tucano e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não farei o milagre de me desvencilhar do governo Lula porque tenho orgulho dele. Agora, se ele (Serra) quer se desvencilhar do governo FHC, é problema dele", afirmou. "Tenho orgulho de ter sido ministra do governo, de ter desenvolvido o PAC, o pré-sal, o Minha Casa Minha Vida e de ter participado de todos os processos em relação ao (aumento do) salário mínimo", afirmou, adiantando o tom que deverá ser adotado na campanha presidencial. Assim que chegou à festa de Genro, no centro de eventos do estádio de futebol Gigante da Beira-Rio, do Internacional, por volta das 21 horas de sábado, Dilma confirmou que deve deixar o governo no dia 31 deste mês para se dedicar exclusivamente à campanha. Ela afirmou ainda que não deverá participar de atos de governo e de inaugurações de obras no período entre sua saída do Ministério até o registro oficial da candidatura, em junho, conforme parecer da Advocacia Geral da União (AGU). "Não pretendemos fazer campanha usando essa possibilidade", afirmou. "Se em algum momento eu for a algum ato, vai ser de forma discreta". Conforme a ministra, a lei permite a participação dela em inaugurações de obras, mas ela vai ficar apenas "olhando de longe, com uma certa saudade". "Tem coisas que serão inauguradas e que eu amassei barro por elas", afirmou. Dilma também espera pela abertura do palanque do PMDB gaúcho, que deve concorrer ao governo estadual com o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça. Boa parte da bancada do partido na Assembleia Legislativa, mais alinhada com os tucanos, resiste em seguir a tendência do comando nacional do partido e apoiar a petista. "Achamos que o próximo governo terá que ser de coalizão, mas a existência de outro palanque no Rio Grande do Sul é um processo ainda a ver", comentou. Horas antes, a pré-candidata do PT participou, em São José, na Grande Florianópolis, do lançamento da candidatura da senadora Ideli Salvati, do PT, ao governo do Estado de Santa Catarina. Dilma disse que tem expectativa de que a eleição desse ano reverta a situação de 2006 naquele Estado, quando Lula amargou uma derrota para Geraldo Alckmin (PSDB) ainda no primeiro turno. O tucano fez 1.889.277 votos sobre 1.108.851 do petista. No segundo turno, Alckmin teve uma vitória por cerca de 300 mil votos. "Vivemos um outro momento", disse. "Nosso governo tem um nível de realização inequívoco que nos permite fazer uma boa campanha. Além disso, vamos oferecer para Santa Catarina e para todos os partidos dois nomes fortes, que são o da senadora Ideli Salvatti e do Claudio Vignati", afirmou a ministra. "A articulação é fundamental. Não somos daquele tipo que senta na cadeira antes da vitória. Vamos disputar para valer", disse a ministra, sobre as possibilidades de composição em Santa Catarina. A festa pelos 63 anos de Genro, completados no dia 6 deste mês, reuniu cerca de mil pessoas, que pagaram entre R$ 50 e R$ 100 por cada ingresso como contribuição para a campanha do petista. Além de familiares, de dirigentes e militantes locais do PT e do PCdoB, participaram da comemoração os ministros do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel; da Justiça, Luiz Paulo Barreto; e de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Segundo o ex-ministro, dois fatores "começam a alimentar o favoritismo" de Dilma na Região Sul, onde o presidente Lula foi derrotado na última eleição. O primeiro é que o "o ranço anti-PT engendrado a partir do episódio do mensalão (em 2005) já não tem mais credibilidade", afirmou. O segundo, de acordo com ele, é o crescimento da economia "com distribuição de renda" durante o governo do PT. Embora nenhuma aliança tenha sido oficializada até agora para a eleição estadual, Genro disse que o partido tem a expectativa de fechar acordos que garantam cinco minutos de propaganda eleitoral. "Mais de cinco minutos enjoam", disse. O PT, sozinho, tem quase três minutos e, de acordo com o pré-candidato, a meta pode ser alcançada com os apoios do PCdoB, do PSB, do PR e do PRB, todos ainda em negociação. O petista também não perdeu a esperança de atrair pelo menos parte do PDT, que formalmente deve apoiar a candidatura de Fogaça. Com a candidatura do pemedebista, os pedetistas assumem a prefeitura de Porto Alegre, mas parte dos prefeitos do partido no interior do Estado prefere Genro. "O PDT tem muito mais identidade com o PT do que com o PMDB e, se ganharmos a eleição, vamos chamar os partidos de centro-esquerda e de esquerda para formar um governo de maioria", comentou o ex-ministro. Caso seja eleito, Genro pretende ainda implantar no Estado uma versão local do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (o "Conselhão"), coordenado por ele no primeiro mandato de Lula. "Vamos fazer um diálogo social ampliado para buscar convergências e políticas apoiadas por todos", afirmou.