Título: Bilionário sueco chega ao Brasil de olho em países emergentes
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2010, Empresas e tecnologia, p. B1

de Genebra

A recuperação econômica dos Estados Unidos e da União Europeia é "frágil" e é mais fácil ser otimista com as perspectivas do Brasil, China e Índia no médio prazo. É o que sinaliza Marcus Wallenberg, da influente família sueca que controla multinacionais em setores financeiro, telecomunicações, bens de consumo, farmacêutico, além do construtor de jatos de combate que concorre à venda para a Força Aérea Brasileira (FAB). Em entrevista ao Valor, Wallenberg falou de sua expectativa de ainda conseguir convencer o governo Lula a comprar o jato sueco. Ele alertou para o impacto da enorme taxa de desemprego dos países ricos sobre o consumo e os investimentos e ameaças de protecionismo no comércio global. A Investor, a holding familiar, tem portfólio de investimentos de US$ 20 bilhões em dezenas de empresas, com retorno de 18% no ano passado. A família Wallenberg não só domina a economia da Escandinávia, como amplia seus interesses no resto do mundo. Marcus e o chairman do grupo, também seu primo, Jacob Wallenberg, de vez em quando trocam de comando. O primeiro foi presidente da Investor por seis anos, de 1999 a 2005, depois passou o cargo para Jacob. Agora, Marcus ocupa, por exemplo, a presidência do Skandinaviska Enskilda Banken (SEB), um dos maiores bancos da região, que antes estava com Jacob. É também presidente do conselho de administração das companhias Electrolux e da Saab, vice-presidente da Ericsson e tem assento nos conselhos da AstraZeneca, Stora Enso etc. Dez minutos antes do horário marcado para a entrevista por telefone, a secretária de Marcus Wallenberg ligou para avisar que ele estava retido no trânsito de Estocolmo e atrasaria alguns minutos. Mais tarde, quando a ligação caiu, Wallenberg telefonou para continuar a conversa, com a calma escandinava. O empresário é o peso pesado da delegação empresarial sueca que acompanha o rei Carl Gustaf XVI e a rainha Silvia na visita ao Brasil a partir de quarta-feira. Wallenberg incorpora na viagem o papel de patrão da Saab, que tenta vender o jato de combate Gripen para a FAB (Força Aérea Brasileira) na concorrência com o francês Dassault e a americana Boeing. Informado das notícias do dia no Brasil, de que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, aconselhará o presidente Lula a bater o martelo em favor do avião francês , Marcus Wallenberg não se desarmou. "O que sabemos oficialmente é que continuamos discutindo, melhorando nossa oferta", disse o empresário. "Temos o melhor preço, a melhor tecnologia, melhor termo de compensação e de financiamento. Vai ser interessante estar no Brasil agora". A Saab é uma das novas apostas da família. Já tinha 19,8% da companhia e comprou recentemente outros 10,25% que pertenciam ao gigante britânico de defesa BEA por US$ 300 milhões. Outros 8,8% da companhia estão sob o controle de fundações Wallenberg. E a obtenção do contrato junto à FAB é considerado essencial, apontam analistas em Estocolmo. Certo mesmo é que a família Wallenberg parece pronta a apostar firme no Brasil nas mais diversas áreas. Companhias onde investe e de fato controla, como Electrolux, Ericsson, Atlas, "tem todas resultados muito positivos" no Brasil. A Investor nota que ABB, AstraZeneca e Ericsson deram globalmente retorno abaixo da média do mercado. Relatório da Investor destaca que o mapa econômico global foi redesenhado e países como China, Índia e Brasil "não são mais economias emergentes, e sim motores de crescimento já estabelecidos". Por sua parte, Marcus Wallenberg é apenas um pouco menos enfático. "O Brasil tem dado passos de gigante, com disciplina fiscal e crescimento. Todos os países no mundo estão expostos aos movimentos cíclicos dos negócios, isso não vai desaparecer, mas o Brasil é um dos definitivamente que soube se sair bem, se tornar motor do crescimento e espero que essa robusta política econômica continue". A aposta nos emergentes ocorre ainda mais quando o cenário nos países industrializados é pessimista. Ele menciona a elevada taxa de desemprego, com a consequência de manter o crescimento do consumo e dos investimentos em níveis baixos. Não "especula" sobre outros riscos para a economia mundial, como bolhas na China, mas diz que "a situação da economia em geral é realmente de incertezas". Nesse cenário, Wallenberg acrescenta que de todo mundo as empresas estão sempre olhando oportunidades. "A diferença é que num cenário de incertezas como agora, a companhia se sente menos confortável para fazer aquisições. Quando a economia voltar a ser robusta, o estímulo é maior", disse. Outra inquietação que menciona é com os riscos de protecionismo no comércio mundial. Acha que o risco cresce porque os políticos são submetidos a pressões domésticas mais fortes, diante da alta do desemprego. Também presidente honorário da Câmara de Comércio Internacional (CCI), Wallenberg lamenta que a Rodada Doha de liberalização global não avance. Diz que a entidade continua a pedir aos governos para retomar a negociação em Genebra. Lembrado de que os EUA bloqueiam a negociação, Wallenberg retruca que não vale a pena "apontar o dedo" para um ou outro culpado, e sim tentar chegar a um compromisso que poderia dar um impulso na combalida economia global. A CCI acaba de preparar uma iniciativa para que os bancos facilitem o "trade finance", o financiamento que é o oxigênio para exportações e importações. O SEB, o banco sueco controlado pelos Wallenberg, tem boa parte de sua atividade no Brasil concentrada em "trade finance". O empresário informa que o banco continuará se expandindo acompanhando seus clientes, que são, sobretudo, companhias da Escandinávia. Como empresário também do setor financeiro, ele se coloca a favor de bônus para executivos, que as autoridades querem controlar para evitar decisões excessivamente arriscadas. Para Wallenberg, é preciso premiar "os talentos". A principal executiva do SEB, Annika Falkengren, fez as manchetes esta semana em Estocolmo, com a revelação de que embolsou mais de US$ 2 milhões no ano passado - pouco na comparação internacional, mas alto para os padrões igualitários nórdicos.