Título: Países divergem e avançam pouco em soluções para e
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2010, Finanças, p. C2

A extraordinária unidade entre os países que evitou uma recessão ainda mais profunda depois da falência do banco Lehman Brothers foi quebrada nesse fim de semana na reunião de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial aqui em Washington, quando se esperavam decisões mais concretas para garantir que uma crise similar não se repita no futuro.

O encontro terminou ontem sem progressos significativos para corrigir os desequilíbrios econômicos entre China e Estados Unidos; para fortalecer a regulação bancária internacional; e para ampliar a legitimidade dos organismos multilaterais. A reunião de ministros das finanças do G-20, na sexta, teve resultados igualmente desapontadores.

"No ano passado, o G-20 fez um trabalho maravilhoso entre os encontros de Londres e Pittsburgh para mostrar que havia um objetivo único", resumiu ontem o diretor-gerente do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), Charles Dallara, entidade que reúne os mais importantes bancos do mundo. "De lá para cá, o G-20 parece ter perdido o rumo comum."

Há esperanças de reagrupar os países em interesses comuns até o próximo encontro do G-20 em junho na Coreia do Sul. Mas as diferenças são grandes. Os países desenvolvidos, como os Estados Unidos, estão tomando decisões próprias em assuntos como regulação bancária, sem se preocuparem muito com o que está sendo discutido em organismos multilaterais como o Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês).

As economias europeias resistem em abrir mão de representação no FMI em favor dos emergentes. E as a China não deu sinais de estar disposta a desvalorizar sua taxa de câmbio.

O Brasil tem seus próprios interesses nesses temas, mas alguns deles não ficaram muito claros. É o caso, por exemplo, da sobrevalorização da moeda chinesa. Na semana passada, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou no Congresso que "é absolutamente crítico que a China valorize a sua moeda para assegurar o equilíbrio global entre as economias".

Mas o Brasil não levantou o tema nas reuniões com os Bric nem com o G-20. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a fraca moeda chinesa não preocupa. "O problema para o Brasil é sobretudo a desvalorização do dólar, a principal moeda internacional de reserva de valor", disse Mantega. "O que a China fez foi atrelar a sua moeda ao dólar para não perder competitividade."

O FMI desenvolve o chamado mecanismo de avaliação mútua, que vai apontar problemas macroeconômicos de cada país que contribuem para desequilíbrios mundial. A expectativa é que o FMI diga o que há de errado na economia americana e chinesa - e como isso leva à subvalorização da moeda chinesa. O FMI pediu que os próprios países traçassem cenários para suas economias e recebeu relatórios muito otimistas.

"Quando juntamos os números, eles são consistentes, mas são otimistas", disse o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn. "Talvez eles sejam muito otimistas, mas, se os países colocarem as políticas corretas em vigor para atingir os objetivos, há uma pequena chance de que os cenários traçados se concretizem.

Mantega diz que o problema está sendo resolvido. "Houve um reequilíbrio. Países com excedente comercial grande, como a China e o próprio Brasil, diminuíram seus saldos e estão voltados para o próprio mercado interno", afirmou o ministro. "Isso criou a oportunidade para países como os Estados Unidos, que estavam muitos voltados ao mercado interno, aumentassem exportações."

Nas discussões do G-20 e no FMI, o Brasil foi contra a taxação dos bancos para recuperar recursos que, daqui em diante, venham a ser gastos no resgate do sistema financeiro. Mantega insistiu no ponto de que o sistema bancário brasileiro é sólido, bem capitalizado e, por isso, não precisa do imposto. Strauss-Kahn disse que esse tipo de visão é um pouco míope. "Talvez se você tivesse perguntado aos Estados Unidos ou Reino Unido antes da crise, eles diriam que seus sistemas financeiros eram sólidos o suficiente", afirmou.