Título: Brasil não está imune à Grécia
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2010, Finanças, p. C8
O Brasil está bem longe da Grécia, o epicentro da crise fiscal de países europeus. Mas não está completamente imune a eventuais contágios, mostra o Fundo Monetário Internacional (FMI), em documento divulgado em seu encontro de Primavera em Washington, encerrado ontem.
Entre as economias emergentes, há dois grupos. Rússia, África do Sul, Romênia e outros países da Europa Oriental são bastante suscetíveis a um eventual aumento do risco soberano em países da zona do euro.
Brasil, Peru, México e outros países latino-americanos não são afetados pelo risco soberano, mas seriam atingidos pela elevação dos juros cobrados de empresas europeias.
Tecnicamente, o FMI mede a correlação do risco soberano de países emergentes e os riscos corporativo e soberano dos países da Europa Ocidental, medido pelos CDS, ou "credito default swaps". As principais conclusões foram apresentadas no relatório de estabilidade financeira, divulgado pelo FMI. O risco do Brasil tem fraca correlação com o risco soberano em países da Europa, mas tem uma correlação importante com o risco corporativo.
A mensagem básica é que, conforme os economistas já aprenderam nessa crise financeira mundial, não existe completo descolamento das economias emergentes de eventuais crises nos países desenvolvidos. O mundo financeiro continua bastante integrado, e todas economias sofreriam algum impacto de uma eventual quebra da Grécia, embora com graus diferenciados.
A Grécia finalmente admitiu na sexta negociar um pacote de socorro de US$ 60 bilhões com países da zona do euro e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Os investidores, porém, continuam a apostar numa eventual reestruturação da dívida grega, mesmo com o início da negociação do pacote de ajuda.
Ainda falta o principal: definir quais ajustes a Grécia deverá fazer para controlar seu enorme déficit público, na casa dos 13% do Produto Interno Bruto (PIB). Membro da zona do euro, a Grécia tem basicamente ferramentas fiscais para conter o avanço de sua dívida pública. O país não pode lançar mão de eventual desvalorização da moeda para corrigir seus desequilíbrios.
No sábado, o ministro das finanças da Grécia, George Papaconstantinou, reuniu-se com o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, para obter apoio dentro do FMI. Mantega está seguro que a Grécia não impõe riscos à economia brasileira. "A Grécia não tem tamanho suficiente para ameaçar a recuperação da economia mundial", afirmou o ministro. "A questão da Grécia é equacionável.
O presidente do BC, Henrique Meirelles, considera a crise grega séria, mas localizada na Europa. "É um problema sério para a Grécia", afirmou Meirelles. "A Grécia é uma economia limitada dentro da Grécia e não tem instituições financeiras sistemicamente importantes que podem levar à ramificação dos problemas." Meirelles ponderou, porém, que o caso da Grécia pode contaminar outras economias europeias, que têm fragilidades fiscais semelhantes. (AR)