Título: Na onda da Telebrás
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2010, EU & Investimentos, p. D1

A disparada dos preços das ações da Telebrás no mercado atraiu também gestores de fundos de investimento além dos grandes especuladores. Todos procuraram - e alguns ainda procuram - tirar uma casquinha das fortes oscilações dos papéis em meio à novela do projeto do governo de ressuscitar a empresa para popularizar a banda larga no país. Só ontem, por exemplo, a ação preferencial (PN, sem voto) da estatal subiu 26%, para R$ 2,18 o lote de mil, e a ordinária (ON, com voto) 22,78%, para R$ 1,94, liderando as altas do dia. Neste mês, o papel ON acumula ganho de 43,70% e o PN, 52,45%.

A alta de ontem foi uma reação à reportagem de Danilo Fariello, de Brasília, informando que o governo deve divulgar nos próximos dias o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), no qual a Telebrás deverá ser a gestora da espinha dorsal do sistema de cabos, estabelecendo os preços do serviço. O risco, porém, permanece grande, uma vez que a ação PN, por exemplo, já variou de R$ 3,15 a R$ 1,46 de fevereiro para cá.

Estudo feito pela Economática com seu novo sistema de acompanhamento de fundos de investimento mostra que 24 carteiras aplicaram em ações PN da Telebrás e outras cinco em papéis ON de outubro para cá. Os principais - Tamisa Multimercado, da BCSul Verax, Brasfort JKobori, da Geração Futuro, Hn Five Ações, do BTG Pactual e Perimeter Private 3, da Perimeter Asset - são fundos exclusivos, o que explica a forte concentração do papel nas carteiras - 98% no caso do Brasfort e 45,8% no do Tamisa.

Em fundos abertos para outros investidores, a presença do papel é muito menor, devido ao risco que ele representa por suas oscilações e por sua falta de fundamentos claros. Mas há quem se arrependa da cautela. "Infelizmente investimos pouco, não pegamos o movimento de alta "na veia", quando entramos ele já tinha subido bastante", confessa George Sanders, gestor de renda variável da Infinity, lembrando que as ações chegaram a ser negociadas por dois ou três centavos há três anos.

O tratamento dado ao papel também foi bem conservador. "Vimos que havia uma chance de o governo reativar a empresa quando começaram os comentários sobre o plano de banda larga popular, para o setor rural, mas nunca pensamos que fosse um projeto para concorrer com as empresas privadas ou forçar uma redução dos custos", diz. Os fundos começaram a comprar quando os papéis estavam na faixa de R$ 0,50 a R$ 0,70 o lote de mil e num parcela pequena das carteiras. "Começamos a vender quando a ação bateu R$ 1,20, parando quando atingiu R$ 3,00", diz ele. "Quando começaram as reportagens sobre o custo do projeto, achamos que seria um custo absurdo e que o governo não iria em frente", diz.

Sanders diz que a gestora dá preferência à liquidez dos papéis, mas "olha tudo" e reserva uma parcela de até 5% do fundo para papéis menos líquidos e mais especulativos. "Entramos nesse papel como se fosse uma opção - onde se compra o direito de comprar um papel no futuro a determinado preço -, que pode virar pó", explica. "Entramos com valores pequenos, com R$ 30 mil, R$ 40 mil, para ganhar bastante ou perder tudo", diz. Se fosse pelos fundamentos, porém, Sanders acha que não compraria o papel. "É difícil avaliar Telebras, se tudo der certo, a ação pode valer R$ 4, R$ 5, se não pode virar pó ou ainda se houver uma associação com empresas privadas o preço atual já seria o justo", diz.

Nem todos ganharam com Telebrás, observam analistas. O fundo de ações exclusivo Igassaba, por exemplo, entrou no papel em fevereiro, quando as cotações atingiram a máxima e, até a semana passada, estava no prejuízo. O mesmo acontecia com o Brasfort, da Geração Futuro. Em alguns casos, os fundos foram criados para aproveitar a especulação com Telebrás, admitem analistas. "Mas são valores pequenos, que proporcionalmente não chegam a pesar tanto para esses investidores", diz um executivo que pediu para não ser citado.

No caso dos fundos exclusivos, a decisão final da aplicação acaba sendo do investidor, explica Daniel Magalhães, gestor da Perimeter. "Conversamos e orientamos o cliente, mas é ele quem decide", afirma. O próprio Magalhães diz que é difícil saber qual o valor real da Telebrás hoje. "É uma posição bastante especulativa, de uma empresa ainda inoperante", resume.

O melhor desempenho segue sendo o do fundo exclusivo Tamisa. Seu cotista, o Banco Cruzeiro do Sul, aplicou nos papéis da Telebrás em 1998, quando custavam R$ 0,01, conforme apurou o repórter Fernando Torres. Hoje, o fundo possui 10% do capital votante da empresa e acumula um ganho de 19.300%.

No caso da Foco Asset, a gestora comprou Telebrás a R$ 0,30 diante da possibilidade de reativação da empresa, diz o sócio Gyorgy Pavetits. "Mas como o governo não estabeleceu nenhuma diretriz concreta, resolvemos vender, e conseguimos até R$ 3,03 pelo papel", explica. O fundo encerrou as vendas com Telebrás a R$ 2,15. "Mas fica difícil manter esse tipo de empresa em carteira, pois sem saber o formato que o governo vai dar para o setor, não é possível estimar qual vai ser o resultado da companhia", diz. O fundo também compra papéis de outras empresas menos líquidas, diz Pavetits, caso de Brasil Ecodiesel, por exemplo. Mas as posições nesses papéis não ultrapassam 1% da carteira. "Um papel desses pode subir 30% ou cair 40% num dia".

No caso da gestora Queluz, Telebrás apareceu nos radares por conta do sistema de monitoramento do mercado, que detecta variações mais fortes de preço e volume dos papéis, explica o sócio Marcos Boto. "Foi uma posição puramente especulativa, aproveitando o movimento técnico do mercado, mas em volume pequeno", diz.

Mas não são apenas os gestores menores que tentaram ganhar com Telebrás. O Banco do Brasil também deu suas beliscadas, via quatro fundos multimercados. O BB Top Master chegou a ter 0,2% da carteira em Telebrás e o BB Top Mult Arrojado, 0,1%.

Com o crescimento do volume de negócios - o papel chegou a ser cotado para voltar para a carteira do Índice Bovespa e, ontem, foi o quarto maior volume da bolsa, com R$ 171 milhões - outros fundos passaram a utilizam Telebrás também para operações de renda fixa. É o caso da Planner, que compra o papel à vista e o vende a termo - para entrega futura a um preço determinado. O ganho nesse caso vem do diferencial entre o preço da compra e o da entrega futura, e fica perto do CDI, explica Carlos Arnaldo Souza, gestor da Planner. "Tanto faz qual papel é, se é Petrobras ou Vale ou Telebrás, só olhamos se ele tem liquidez e está com uma boa taxa no mercado de opções", diz.