Título: Índia proíbe a exportação de algodão e favorece EUA
Autor: Meyer , Gregory
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2010, Agronegócios, p. B11

Os pedidos estão jorrando para os exportadores de algodão dos EUA, depois que a Índia proibiu as exportações da fibra. A situação vem remodelando rapidamente padrões comerciais que recentemente penderam em favor do país asiático. A proibição também prejudica a competitividade das fábricas de tecidos nos vizinhos Bangladesh, Paquistão e China, o maior importador mundial, com estimados 9,5 milhões de fardos de algodão por ano.

A Índia rapidamente se tornou a segunda maior exportadora mundial de algodão, depois de adotar cepas transgênicas da planta. Na semana passada, o comissário do setor têxtil suspendeu as exportações até segundo aviso, mencionando um "aumento excessivo nos preços [do algodão]".

O contrato de algodão com vencimento em julho na bolsa de Nova York, uma referência internacional, subiu 5,7%, para 86,20 centavos de dólar por libra-peso na semana, aproximando-se da maior cotação em 15 anos. Ontem, perdeu fôlego e recuou 31 pontos, para 85,89 centavos de dólar.

Para os EUA, maior país exportador, a iniciativa da Índia, de acalmar os beneficiadores de algodão descontentes com os crescentes preços da matéria-prima, representa um lucro inesperado.

Os produtores da África Ocidental também testemunharam uma febre de compras, segundo os empresários do comércio exterior, ao passo que países exportadores como Austrália e Brasil poderão captar novas demandas.

"Tivemos um aumento enorme em consultas. É o maior que já tivemos", disse Jordan Lea, presidente da Eastern Trading, uma exportadora de algodão do Estado da Carolina do Sul nos EUA.

Os preços locais do algodão indiano caíram após o anúncio da proibição, segundo a Cotlook.

A surpreendente suspensão das exportações, anunciada dias após a instituição de um novo imposto que incide sobre a exportação do algodão, afetará os agricultores indianos e "comprovará ser prejudicial à reputação do país, de fornecedor confiável e regular de algodão", disse a Associação de Algodão da Índia.

A mudança de política também infligirá "enormes perdas" aos exportadores de algodão, disse a associação. A americana Cargill também está entre os que estão emperrados com algodão indiano. "O ônus recai igualmente sobre pessoas que assumiram compromissos de exportação e pessoas que aguardam para receber as remessas", disse Doug Christie, presidente da Cargill Cotton, ao "Financial Times".

A China é o principal cliente de algodão da Índia e suas beneficiadoras "precisarão encontrar suprimentos alternativos procedentes da América, o que significará que precisarão pagar um custo mais elevado", disse Jagdish Parihar, sócio-diretor da trading Olam International, em Cingapura.

Os EUA, com um setor têxtil doméstico agonizante, perdeu no ano passado uma disputa comercial com o Brasil, que atacou os subsídios diretos fornecidos para proteger os produtores de algodão das flutuações de preços globais, bem como um programa de garantia de empréstimos destinado a estimular o crédito a compradores internacionais do algodão americano.

É improvável que a proibição se mantenha, já que a safra de algodão da Índia sistematicamente supera a demanda doméstica. Traders esperam, porém, que a memória perdure. "Ela poderá provocar uma redução nos preços do algodão indiano no futuro, pois será percebido como um algodão de alto risco", disse Parihar (Tradução de Robert Bánvölgyi).