Título: País não enriquecerá urânio iraniano, afirma presidente
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Fonte: Valor Econômico, 29/04/2010, Brasil, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desautorizou ontem o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao negar que o país tenha interesse em tornar-se receptor de urânio enriquecido pelo governo iraniano. Durante visita ao Irã, na terça-feira, Amorim afirmou que nenhuma proposta formal nesse sentido havia sido feito por Teerã, mas assegurou que "se recebermos uma, consideramos que poderia ser examinada".

Em fevereiro, o chanceler brasileiro havia dito que o Brasil poderia ser receptor do urânio iraniano, se houvesse um pedido da comunidade internacional, mas que o país não detém a tecnologia de enriquecimento do urânio bruto.

A Agência Atômica Internacional (Aiea) propôs que um país desenvolvido pegue o urânio bruto do Irã, promova o enriquecimento e o devolva a Teerã. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, recusou a proposta, afirmando que não poderia confiar nos países do Primeiro Mundo.

A agência iraniana de energia atômica apresentou, então, uma contraproposta: entregaria seu urânio enriquecido para um país neutro (Brasil, Japão ou Turquia - hipótese mais provável). Esse país neutro trocaria, então, com um país desenvolvido, o urânio enriquecido por cápsulas de combustível que seriam repassadas ao Irã.

O presidente Lula afirmou que o interesse do Brasil é convencer Ahmadinejad a utilizar o urânio enriquecido para fins pacíficos, como a produção de energia elétrica, combustível e medicamentos. No dia 16 de maio, Lula estará em Teerã para fazer essa proposta diretamente ao presidente iraniano, amparado na experiência brasileira. "Nós somos um país que colocou na Constituição Federal, de maneira clara, a proibição de utilizar urânio enriquecido para fins não pacíficos", disse Lula.

O presidente brasileiro ainda aposta em uma saída negociada, sem a necessidade da imposição de sanções internacionais ao Irã. "Depois de conversar com Ahmadinejad, vou procurar os presidentes da Rússia (Dimitri Medved), dos Estados Unidos (Barack Obama) e da França (Nicolas Sarkozy) para discutir alternativas ao embargo", afirmou.

Lula acha que o Brasil tem todo o direito de projetar-se como articulador político internacional. "Não está escrito em canto nenhum que os conflitos mundiais devem ser discutidos por poucos países. A tradição pacifista brasileira nos dá todas as condições para debater propostas que busquem a paz mundial", disse. (PTL)