Título: Agenda de Dilma divide-se entre empresários e sindicalistas
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Fonte: Valor Econômico, 29/04/2010, Política, p. A6
A agenda de viagens da candidata do PT Dilma Rousseff vai privilegiar, nos próximos dias, encontros que tenham como tema a política social e assuntos da economia, para evitar constrangimentos políticos para a candidata. Hoje, em Ribeirão Preto (SP), Dilma participará da Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação e, na sexta, vai se reunir com dirigentes lojistas de Santos (SP). No sábado, Dilma participará das festas do Dia do Trabalhador promovidas pela Força Sindical e pela CUT, sempre ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Apesar da previsão de almoços com prefeitos e lideranças políticas locais, uma pessoa próxima de Dilma afirmou ao Valor que esses encontros vão reunir aliados que não estejam em disputa direta por cargos em outubro. Na segunda, Dilma estará em Uberaba (MG) e manterá, pelo menos por enquanto, a mesma filosofia de trabalho - evitar visitar cidades onde a base aliada não tiver chegado a um consenso para as eleições de outubro.
A decisão foi tomada no início dessa semana, após uma avaliação das primeiras viagens da candidata petista. Articuladores políticos da campanha avaliaram que as dificuldades enfrentadas pela candidata após a desincompatibilização não têm relação com uma possível falta de preparo de Dilma e, sim, com o clima belicoso instalado em alguns Estados brasileiros.
Outra tática para evitar problemas é deixar para Lula a tarefa de conversar com Ciro Gomes, que está magoado após a decisão do PSB de retirá-lo da disputa presidencial. Apesar da reconhecida amizade entre Ciro e Dilma, a análise é de que Lula - que sempre defendeu a eleição plebiscitária e chegou a sugerir Ciro para o governo de São Paulo - tem mais condições de apaziguar os ânimos do pessebista e levá-lo de volta à campanha governista.
Antes da decisão final do PSB, a cúpula do partido repudiava a possibilidade de haver essa conversa. Não queria passar a imagem de que Lula teria feito intervenção em uma decisão interna do partido - embora, na prática, o desfecho tenha sido o desejado pelo presidente . O PSB quis, também, assumir o ônus do afastamento para livrar o presidente Lula do risco. Agora, no entanto, uma conversa de Ciro com o presidente é vista com mais naturalidade.
Ministros acreditam, contudo, que esse não é o melhor momento para uma conversa entra ambos. "Apesar de Ciro ter se excedido um pouco em suas queixas - política não se faz com o fígado - precisamos dar tempo para que ele supere esse momento adverso", afirmou um auxiliar de Lula.
Ontem, Dilma visitou um parque eólico em Osório, a 95 km de Porto Alegre, para gravar imagens que deverão ser exibidas no programa que o PT levará ao ar no dia 13 de maio. O programa é produzido pelo publicitário João Santana, marqueteiro de Dilma. O PT deverá levar à TV um programa focado na trajetória de Dilma, que nasceu em Minas e ganhou projeção política no Rio Grande do Sul. Ontem, ela gravou em Belo Horizonte.
A captação de imagens de Dilma diante dos aerogeradores, como são chamados os cataventos gigantescos que produzem energia a partir do vento, ocorreu em um momento em que o governo Lula é bastante criticado por ambientalistas por insistir na construção da hidrelétrica de Belo Monte (PA), na Amazônia.
A escolha de Osório obedeceu à lógica política de ligar Dilma a investimentos em energias renováveis. Trata-se do maior parque de eólico da América Latina. As 75 turbinas instaladas são capazes de produzir 150 MW por ano - o suficiente para abastecer uma cidade de 750 mil pessoas.
Quando era secretária de Minas e Energia do governo do PT gaúcho (1999-2002), Dilma coordenou estudos do potencial de geração de energia eólica no litoral do Estado. Em junho de 2007, já como ministra-chefe da Casa Civil de Lula, Dilma foi à inauguração do parque de Osório, que teve apoio federal para sair do papel.