Título: União Europeia adia definição sobre retomada de negociação com Mercosul
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2010, Brasil, p. A2

de Genebra

Foi a ultima reunião técnica antes da cúpula União Europeia-Mercosul em maio, em Madrid. E a UE continuou sem dizer ao Mercosul se aceita relançar a negociação do acordo de livre comércio birregional no mês que vem, refletindo sua dificuldade para fazer concessões na área agrícola. Depois de dois dias de discussões com o Mercosul, em Bruxelas, a UE vai agora consultar os Estados membros e seus comissários para decidir se retoma a negociação com o objetivo de concluí-la rapidamente. Para o Mercosul, a bola está do lado europeu. Declarações de fonte europeia sugerem que a retomada da negociação é o desfecho mais provável. "Os dois lados reafirmaram o compromisso de negociar um acordo de livre comércio ambicioso e equilibrado, e agora vão considerar as informações trocadas sobre suas expectativas para concordar nos próximos passos." Por sua vez, o diretor do Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty, embaixador Evandro Didonet, disse que "o diálogo de Bruxelas foi bom e temos expectativa de que, com base nisso, a negociação possa ser relançada em maio". Mas misturou prudência e esperança: "Definitivamente, o caminho está aberto, mas sempre mantendo a precaução". Eoin O"Malley, representante da BusinessEuropa, a grande central das indústrias europeias, adotou um tom neutro: "Apoiamos o processo em vias de ser reaberto, e depois é preciso ver o que será de fato colocado sobre a mesa". Tarimbados negociadores em Bruxelas acreditam que somente dentro de dez dias é que a UE terá uma decisão a dar ao Mercosul. Os europeus parecem ter "dúvidas sinceras" sobre sua capacidade de fechar um acordo e sabem que não podem retomar a negociação só para fazer jogo de cena e ficar em cima do muro eternamente. Aceitar relançar a barganha significa que as concessões podem ser suficientes para fechar um acordo. Há cerca de um mês, em Buenos Aires, o Mercosul já tinha indicado que incluiria o setor automotivo na liberalização e daria acesso também a compras governamentais para as empresas europeias. A cobertura do acordo poderia chegar aos 90% até então demandados por Bruxelas. Na segunda-feira e ontem, em Bruxelas, houve troca de informações sobre as demandas, com cada lado indicando sempre vagamente o que pode atender ou não, mas sempre sem falar em cifras, conforme diferentes fontes. A União Europeia insiste que não dá para melhorar sua oferta para carnes (bovina e frango), refletindo a enorme oposição dos produtores da França, principalmente. A questão nem é que a França quer mais concessões na área industrial ou de serviços, mas a incapacidade e fragilidade política do presidente Nicolas Sarkozy , que teme descontentar o setor agrícola francês. Para se ter uma ideia da dificuldade que isso representa para a negociação, em 2004 Bruxelas ofereceu cota de 100 mil toneladas de carne bovina para o Mercosul, com tarifa menor, enquanto o bloco pediu 300 mil toneladas, três vezes mais. Para frango, tinha oferecido 75 mil toneladas, contra um pedido de 250 mil toneladas. Desde então, a demanda do setor produtivo brasileiro aumentou, enquanto os europeus insistem que não podem pagar mais, e mesmo o que pagar será em duas vezes, a segunda na Rodada Doha. Nos outros produtos para os quais o Mercosul pediu amplas cotas, com tarifa zero, a UE deu a entender que pode melhorar sua oferta de 2004, mas que já era bem abaixo do que o bloco do Cone Sul pedia na época. Tudo isso, porém, só será detalhado se a negociação for relançada.