Título: A prioridade é fazer bancada no Legislativo
Autor: Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2010, Especial, p. A16

De São Paulo

Júlio Gushiken é gerente executivo de relações institucionais da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp) e está à frente do trabalho de aumentar a bancada de deputados em 2010 a favor dos interesses das cooperativas. Gushiken já fez mesmo tipo de atividade em empresas e diz que o critério de escolha dos candidatos não levará em conta a filiação partidária. "Teremos um candidato de cada nuance ideológica", diz. A seguir, os principais trechos da entrevista que concedeu ao Valor:

Valor: A Ocesp representa quais cooperativas?

Júlio Gushiken: Temos muitas cooperativas. A Unimed é muito famosa, já tem um trabalho de outras eleições. Eles não faziam doação antes porque não era permitido por lei. A pessoa física, o cooperado, fazia a doação.

Valor: A Ocesp vai doar?

Gushiken: A organização não tem esse papel, mas vamos orientar as cooperativas como fazer para não cair em problemas jurídicos e como potencializar os candidatos. Não adianta cada cooperativa jogar 10 mil votos, vamos organizar, fazer uma lista de candidatos. No meio da campanha, faremos uma pesquisa legislativa. Tentaremos detectar quais candidatos já saíram de 0,7%, 0,9% e têm alguma chance.

Valor: O apoio será financeiro?

Gushiken: A cooperativa tem essa opção, mas algumas são humildes, têm dificuldades. Isso precisa ser aprovado em assembleia. Outras não têm dificuldade nenhuma e podem doar, como as cooperativas de crédito.

Valor: E as cooperativas de trabalhadores?

Gushiken: Todas podem doar, desde que não sejam concessionárias ou permissionárias de serviço público.

Valor: Cooperativa de táxi pode destinar dinheiro a campanha?

Gushiken: Não pode com doação, mas pode se mobilizar.

Valor: A Ocesp afirma que não haverá preferência partidária, mas de quais partidos sairão os candidatos

Gushiken: PT, PCdoB, PSDB e DEM. A estratégia é fazer bancadas federal e estadual.

Valor: As cooperativas vão apoiar candidatos a governador ou a presidente?

Gushiken: Não. É difícil porque depois podemos causar indisposição com o governador ou com o presidente. Vamos levar uma carta a todos os candidatos com a nossa pauta de reivindicações e contar o que é o cooperativismo. A orientação é para que as cooperativas doem recursos e façam a mobilização com o parlamento estadual e federal.

Valor: Quantos candidatos pensam em apoiar?

Gushiken: Seria irresponsável falar um número, mas com certeza teremos um mínimo, um candidato de cada nuance ideológica. Teríamos que ter um mais à esquerda, um de centro-esquerda, um de centro, um à direita e mais um. No mínimo, cinco federais e cinco estaduais em São Paulo. De preferência, de várias tendências para que possamos ter trânsito, independentemente de governador, presidente, secretários ou ministros.

Valor: Como foi sua entrada na Ocesp?

Gushiken: Sou cientista político de formação pela UNB. Sempre trabalhei ligado à política, na área de relações governamentais de empresas privadas, na relações públicas do Senado. Fui chefe de gabinete do deputado Marcelo Almeida, do Paraná, do PMDB. Estou na Ocesp desde julho.

Valor: Em quais empresas privadas esteve?

Gushiken: Na Kraft, Philip Morris, na Natura.

Valor: Sempre com na área de relações com o governo?

Gushiken: Sempre. Levando o papel, a representação da empresa, as dificuldades que tem e o que traz de benefícios para a sociedade. Tentamos sensibilizar o governo.

Valor: Quais são as cooperativas com capacidade de fazer grandes doações?

Gushiken: Existem grandes cooperativas, como a Coopersucar e as Unimeds. Na área agrícola, tem a Camda, de Adamantina, a Carol, de Orlândia, no interior de São Paulo.

Valor: Em São Paulo, as maiores são do setor agropecuário?

Gushiken: : Sim, mas temos o setor de serviços na área urbana. Temos cooperativas menores, do ramo do trabalho. Na área de transportes, algumas não vão poder doar, mas podem mobilizar eleitores.

Valor: Há grandes cooperativas de crédito em São Paulo?

Gushiken: A maior parte é de crédito mútuo, de crédito rural, derivadas de cooperativas de produção agrícola. Tem as de funcionários públicos, como a do servidores do Judiciário (Judicred), uma cooperativa forte. Há as de funcionários de prefeituras. São José dos Campos tem uma muito forte de servidores municipais.

Valor: Funcionário público pode doar por meio de cooperativa?

Gushiken: Em princípio, sim. Se a cooperativa não tiver contrato público nenhum poderia, mas são consultas que devemos fazer ao TSE.