Título: Níquel vira estrela entre as commodities
Autor: Farchy, Jack
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2010, Empresas, p. B12

Financial Times, de Londres

Ele pode não despertar a atenção do petróleo, ouro ou mesmo o cobre, mas o níquel está com sorte: ele vem superando o desempenho de quase todas as commodities este ano. O metal, usado na produção de aço inoxidável, teve uma alta de quase 40% desde o começo do ano, comparado aos ganhos de menos de 5% do alumínio e do cobre. Desde o ponto mais fraco atingido no fim de 2008, o preço do níquel mais que triplicou para US$ 27,5 mil a tonelada, por causa da forte demanda da indústria de aço inoxidável e de interrupções no fornecimento. Numa indicação do aumento espetacular, o valor do metal em uma moeda de cinco centavos de dólar - que também contém cobre - está agora em 6,2 centavos. O aumento dos preços também terá um impacto significativo sobre mineradoras como a Norilsk Nickel e a Vale, as duas maiores produtoras do mundo que juntas respondem por cerca de um terço do mercado, assim como sobre produtores de aço inoxidável como a ThyssenKrupp e a ArcelorMittal, para as quais o custo do metal responde por até 60% do custo final do aço inoxidável. A alta acentuada dos preços do níquel também despertou o interesse dos especuladores, inspirando comparações com 2007, quando os preços ultrapassaram os US$ 50 mil, em meio a alegações de manipulação de mercado. "Nunca vi tanto dinheiro disponível para investimentos como agora", diz Alex Heath, do Royal Bank of Canada, referindo-se ao interesse especulativo pelos metais de base. Mas a maioria dos operadores, analistas e corretoras acredita que os preços do níquel estão sendo estimulados pela oferta e demanda básicas. O consenso do setor é que os preços poderão facilmente superar os US$ 30 mil num futuro próximo, uma vez que muitos acreditam que a demanda vai superar a oferta este ano. Ontem o metal fechou a US$ 25.450 na LME, com alta no mês de 1,90%. A produção mundial de aço inoxidável reagiu para igualar seu patamar mais alto no primeiro trimestre, de 7,8 milhões de toneladas, com a China liderando o crescimento, segundo a Macquarie. Os negociadores de níquel chamam atenção para a demanda da indústria do aço inoxidável pelo metal. "Quando eles (fabricantes de aço inox) dão uma ordem para comprar níquel, eles querem para ontem", diz um operador com larga experiência no setor. Uma prolongada greve nas operações da Vale no Canadá vem afetando a produção mundial. Outro fator que contribui para a atmosfera febril é o fechamento cada vez mais próximo do porto de Dudinka, no norte da Sibéria, onde a mineradora Norilsk, considerada a maior produtora de níquel do mundo, embarca suas exportações. O porto fecha todos os anos, no mês de junho, durante o período de degelo, e a Norilsk antecipa os embarques de níquel para cobrir esse período de inatividade. Mas este ano circulam rumores nos pregões de que a Norilsk poderá não ter produção suficiente para embarcar antecipadamente todo o níquel que precisa para atender suas encomendas. Gordon Buchanan, um operador da Stratton Metals, diz que esses rumores "certamente estão alimentando a fogueira". O derradeiro fator de otimismo envolve um aperto. Operadores e corretores estão assistindo com nervosismo a formação de uma grande posição no mercado de níquel, que muitos acreditam está sendo mantida por um grande fundo de hedge de commodities de Nova York. Dados da Bolsa de Metais de Londres (LME) mostram que recentemente uma companhia adquiriu mais de 50% de seus direitos de compra de níquel - uma medida do controle sobre os estoques armazenados do metal. Mas analistas alertam que os atuais preços não deverão ter sustentação além do fim do ano. Isso porque o crescimento da produção de aço inoxidável "está até certo ponto à frente da demanda" e isso poderá dar uma acalmada, segundo afirma David Wilson do Société Générale. Além disso, a produção das operações da Vale no Canadá, que respondem por cerca de 10% da produção mundial, deverá ser retomada no segundo semestre. E o mais importante: uma onda de nova produção mineral deverá chegar ao mercado ao longo do ano que vem. Matthew Hope, analista do Crédit Suisse em Sidnei, diz: "Olhando para frente, tudo o que consigo ver é uma muralha de níquel novo". O aumento da produção poderá proporcionar um certo alívio à Casa da Moeda dos Estados Unidos, voltando a colocar o custo do níquel em linha com seu valor de face.