Título: Mercado considera decisão a mais acertada
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2010, Finanças, p. C2
De São Paulo
O mercado considerou a decisão do Comitê de Política Monetária a mais acertada para o momento. Segundo o diretor do departamento de economia do Bradesco, Octavio de Barros, a alta de 0,75 ponto percentual na Selic mostra que o regime de metas de inflação não mudou. "Havia muita gente que considerava que o Banco Central poderia estar menos obcecado pelo centro da meta", afirma. Segundo ele, esses economistas acreditavam em um aumento de 0,5 ponto percentual na Selic na reunião de ontem. Para ele, o horizonte do Banco Central é de 12 meses. "Neste ano, acreditamos que a inflação vai ficar acima do centro da meta, mas o BC está mirando 2011", afirma ele. O Bradesco vê o IPCA, a medida oficial de inflação, em 5,8% neste ano, com o IGP-M chegando a 8%. O centro da meta de inflação é 4,5% ao ano. "O regime de metas já dura 11 anos é uma das maiores conquistas econômicas deste país", diz. Para Octavio de Barros, o Produto Interno Bruto brasileiro vai crescer no mínimo 6,4% durante este ano. Ele acredita que, também por isso, o BC terá de realizar um aumento de 3,5 ponto percentual na Selic no total, incluído o 0,75 ponto de aumento na reunião de ontem. O mercado fala em aumentos de 3 a 5 pontos percentuais no total do ciclo que se iniciou. Para o economista-chefe do Itaú Unibanco, Illan Goldfajn, esse novo ciclo de aperto monetário será longo e deve se estender até março do ano que vem. Segundo ele, a Selic deve chegar a dezembro em 11,75% ao ano e o ajuste chegará até 13% no primeiro trimestre de 2011. Na sua visão, o ajuste era mais do que necessário, porque o Brasil ainda não reúne condições para crescer de forma sustentável acima de 5% sem pressões na inflação. Com a redução do desemprego, aumento da renda e ascensão das faixas socioeconômicas menos favorecidas com forte impulso de consumo, não havia outro remédio a não ser o juro. O PIB, segundo o Itaú Unibanco, chegou a 2,7% no primeiro trimestre e seria necessário um freio muito drástico para a taxa de crescimento chegar aos 6,5% projetados para o ano. "Temos de sair do ritmo de crescimento chinês para o brasileiro", afirma o economista. Para crescer numa média de 5% ao ano, acima do histórico brasileiro, seria necessário que os investimentos chegassem a 30% do PIB. Para 2010, a estimativa é de 21%, subindo a 22% entre 2011 e 2012, diz. Para o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, a decisão do Copom já era esperada pelo mercado financeiro e já se refletia nas curvas de juros futuros. Segundo nota enviada por e-mail pela assessoria de imprensa, Sardenberg considera que, com a decisão, o Banco Central reafirma o seu compromisso com estabilidade de preços numa perspectiva de longo prazo. Para Walter Machado de Barros, presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-SP), a chamada "paulada" de 0,75 ponto percentual nos juros já vinha sendo sugerida pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e foi uma opção por ajustes mais rápidos, abrindo mão do gradualismo. De acordo com e-mail da assessoria de imprensa do Ibef, ele considerou que a decisão foi a mais acertada.