Título: Recuperação leva países da AL a elevar as taxas
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2010, Finanças, p. C2
de Buenos Aires
O aumento dos juros brasileiros, definido ontem à noite pelo Comitê de Política Monetária (Copom), inaugura um ciclo de aperto monetário na América Latina. Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Uruguai devem dar sequência ao movimento do BC brasileiro e deverão elevar em até três pontos percentuais suas taxas básicas de juros ao longo deste ano. Mesmo com a recuperação da atividade econômica, no entanto, esses países ainda preferiram manter inalteradas suas taxas em abril e adiaram o aumento dos juros. À exceção da Argentina e do Uruguai, todos registraram inflação menor do que a brasileira em 2009, mas agora começam a enfrentar aceleração dos preços, com o fim da crise. Nas projeções do Citibank, os juros subirão de um a três pontos percentuais nessas economias. Com um rigor monetário maior na América Latina do que nos países ricos, a tendência é estimular o "carry trade" (quando investidores tomam empréstimos em um país e aplicam em outro para embolsar o diferencial de taxa de juros). Isso pode gerar uma sobrevalorização ainda maior de moedas da região, como o real, o peso uruguaio e o sol peruano, avalia Alberto Ades, economista-chefe do Citibank para a América Latina. Para o Bank of America Merrill Lynch, as taxas de juros de curto prazo terão uma alta de 2,25 pontos percentuais no Chile; de 0,75 ponto na Colômbia; de 0,25 ponto no México; e de 2,75 pontos. no Peru. Em todos os casos, as taxas estão muito abaixo da aplicada no Brasil, principalmente se forem descontados os índices de inflação. Na Argentina, onde os juros básicos estão em 10% e devem subir a 11% até o fim do ano, a taxa chega a ser negativa. Medições independentes apontam que o índice de preços ao consumidor poderá alcançar 25% em 2010, mais do que duplicando as estimativas oficiais. O crédito ao setor privado, porém, é apenas um quarto do registrado no Brasil e isso torna a definição dos juros pelo Banco Central um tema periférico no debate econômico. Em reuniões nos últimos 30 dias, os bancos centrais da região ainda minimizaram os riscos inflacionários. O BC do Peru avaliou que "a evolução recente da inflação é fundamentalmente consequência do impacto transitório de choques de oferta e fatores sazonais", mantendo a taxa de juros em 1,25% ao ano, um piso histórico. O Banco Central do Chile renovou a taxa de 0,5% ao ano, também a mais baixa de sua história, e considerou que isso ainda é suficiente para alcançar a meta de inflação - de 3%.