Título: Cotações têm forte oscilação
Autor: Pires, Luciano
Fonte: Correio Braziliense, 05/07/2010, Economia, p. 10

Prever o comportamento dos preços de itens agrícolas e de minerais se transforma em dor de cabeça para investidores

Com o mundo crescendo num ritmo menor do que o esperado neste ano, as cotações das commodities (itens básicos produzidos em larga escala e com cotação internacional) entraram em parafuso.

Ao longo do primeiro semestre de 2010, o valor das principais matérias-primas oscilou tanto que prever o comportamento do mercado pelos próximos seis meses transformou-se em desafio para os analistas e em dor de cabeça para os países que, assim como o Brasil, dependem das exportações dessas mercadorias.

Comparado a 2009, quase tudo está mais barato. Entre os grãos, soja e milho até ensaiaram pequenas valorizações, mas acabaram fixando preços em patamares inferiores aos registrados no ano passado. O mesmo ocorreu com o petróleo, que, apesar de ter se beneficiado de pequenos lampejos, já perdeu 10% no ano. O minério de ferro e o ouro destoaram, operando quase sempre em alta e subindo degraus que os colocarão em evidência neste e no próximo período. A dupla, no entanto, não está imune ao mau humor da economia global.

Os olhos dos investidores estão voltados para Europa, China e Estados Unidos. ¿Está todo mundo ressabiado. O mercado está muito machucado¿, resume o economista André Perfeito, da Gradual Investimentos. Segundo ele, os sinais ainda incertos de recuperação e de quebra de países com presença significativa no comércio exterior têm servido de combustível para o vaivém das cotações. Esse cenário tende a se manter por pelo menos até agosto. O CRB, índice de referência global para as commodities, está 50% abaixo do que alcançou há 12 meses.

Rombos fiscais gigantescos nos países europeus lançam nuvens de incerteza sobre quem exporta para o Velho Continente.

É o caso do Brasil. A balança comercial, no primeiro semestre, registrou aumento das vendas de produtos primários para os europeus, mas em escala mais tímida do que a esperada. Ainda assim, André Perfeito não crê que a Europa tem potencial para lançar o mundo em um buraco tão profundo quanto o provocado pela crise internacional. ¿O evento europeu já está no preço.

Se tivermos uma crise no segundo semestre, ela nem de longe será como a de 2008¿, justifica.

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) prevê que, mais cedo ou mais tarde, os mercados vão se estabilizar. A entidade acredita em pequenas valorizações no preço do minério, mas chama a atenção para os efeitos nocivos que as turbulências na Europa podem causar sobre a China e os Estados Unidos. Dois importantes destinos de produtos primários, ambos correm riscos de ser atingidos pela freada europeia. Na média, segundo a AEB, os preços médios das commodities exportáveis vão ficar entre 5% e 10% menores do que durante os primeiros seis meses de 2010.

Paradão Nem todas as encomendas de produtos agrícolas foram entregues pelos grandes celeiros exportadores, como Brasil e Argentina. Ainda há muita mercadoria nos portos ¿ especialmente soja. A carga represada, porém, não fará com que o saldo sonhado pelos vendedores seja muito melhor em dezembro do que foi até agora.

Esse recado vem sendo dado pelas principais bolsas de valores, que amargam quedas expressivas e têm se esforçado para evitar que os fluxos de capitais retroalimentem a ciranda financeira que tanto castigou o mundo no auge da crise causada pelo estouro da bolha imobiliária americana.

Gustavo Prado, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), explica que há uma espécie de ¿paradão¿ das cotações de culturas como soja, algodão e milho. O grande vilão, segundo ele, é o câmbio, que não traz, para o bolso do produtor, renda e competitividade.

A alta dos juros determinada pelo Banco Central (BC) e as safras recordes estimadas para o Brasil e previstas também entre os tubarões mais vorazes do comércio internacional minam ainda mais as chances dos exportadores brasileiros de grãos de comemorarem lucros mais vantajosos.