Título: Desempregado é, na maioria, mulher, jovem e com ensino médio
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 30/04/2010, Brasil, p. A4

Quem está desempregado hoje no Brasil é em sua maioria mulher, jovem e com no mínimo o ensino médio completo. Num período em que o país chega perto do pleno emprego, há um contingente de 1,8 milhão de pessoas que está fora do mercado de trabalho e com dificuldade para entrar. Os dados são da Pesquisa Mensal do Emprego (PME), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A exigência cada vez mais forte das empresas por qualificação chega a uma população que está saindo da escola, sem experiência nem especialização, explica Cimar Azeredo, gerente da pesquisa. Eram 760 mil jovens de 15 a 24 anos procurando emprego em março deste ano. A desocupação ficou estável em relação ao mês anterior.

A mulher é maioria do público que está buscando emprego (58,5%) e também maioria da população economicamente ativa. Fora essa explicação para a participação maior do grupo feminino entre os desocupados, Azeredo acredita que pesa o fato de a mulher não ser majoritariamente o chefe da família.

Por não ser a primeira pessoa responsável pelo sustento da casa, ela fica menos forçada a procurar o subemprego como primeira alternativa (o que a tiraria do grupo de desocupados) e se mantém na parcela de pessoas à espera de um trabalho melhor. "Se a casa está sendo sustentada por outra pessoa, a mulher pode escolher esperar por algo melhor em vez de migrar para o subemprego", diz ele.

Na fila da contratação, há 1,3 milhão de pessoas que não são os principais responsáveis pela família, ou 74,5% do total.

A população na fila para contratações não é pouco instruída. Mais da metade (59,5%) tem ao menos o ensino médio completo. A parcela com menos de oito anos de estudo representa apenas 17% do grupo.

No entanto, as empresas reclamam de falta de profissionais qualificados. Considerando que parte expressiva dos desocupados é de jovens, pode-se concluir que existe uma corrida contra o tempo para quem está entrando no mercado de trabalho agora. "O jovem historicamente tem mais dificuldade de ser contratado por conta da falta de experiência, de especialização", diz o gerente da pesquisa.

Metade dos desempregados (49,8%) está em busca de trabalho há no mínimo 31 dias e no máximo seis meses. Para Azeredo, esse volume concentra as pessoas que se animaram com a notícia de melhoria da economia nacional e decidiu voltar a procurar trabalho. Se considerar um período ainda menor, de até 30 dias, a proporção do público na fila para uma ocupação é de 24,7% do total.

"Com a notícia de que o mercado está bom, mais pessoas decidem buscar um trabalho", diz o gerente da pesquisa. De acordo com a PME, 352 mil pessoas estão em busca do seu primeiro emprego, maior número desde outubro do ano passado.

A Região Nordeste concentra o maior índice de desocupação do país, com 11,3% em Salvador e 8,1% em Recife. "São regiões com um cenário diferenciado, uma economia menos desenvolvida e com grande contingente de jovens", diz Azeredo. Porto Alegre apresenta o menor percentual, de 5,9%. No Sudeste, São Paulo tem 8,2%, Rio de Janeiro, 6,4% e Belo Horizonte, 6,3%. (SM)