Título: Petrobras viabiliza oferta
Autor: Valenti, Graziella; Schuffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 03/05/2010, Eu e investimentos, p. D1
de São Paulo e do Rio
A Petrobras tirou o gato do telhado no assunto capitalização. No fim da tarde de sexta-feira, o conselho de administração da estatal aprovou mudanças na operação para tentar garantir que ela ocorra até o fim de julho. No lugar de dois laudos para avaliar os até 5 bilhões de barris de petróleo do pré-sal que serão injetados no negócio pela União, haverá apenas um neste primeiro momento. E em vez de fazer um aumento de capital privado, a estatal fará uma oferta pública de ações. Tudo isso para reduzir os prazos e acabar com a impressão do mercado de que a operação não é viável para este ano. De um lado, a mudança trouxe um pouco mais de risco, pois agora estão previstas duas revisões sobre o valor dos barris. Mas, de outro, deu grande vantagem aos investidores na formação do preço da ação para a operação. Num aumento de capital privado, o preço é preestabelecido pela companhia. Já numa oferta pública, o valor de cada ação nova emitida é reflexo da demanda do mercado pelos papéis. Assim, os interessados poderão colocar nas suas contas o risco que virem no negócio. A definição do preço de barril de petróleo será feita agora apenas com base no laudo contratado pela Petrobras, da consultoria americana DeGolyer & MacNaughton. A União faria a negociação suportada por um laudo contratado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Entretanto, os prazos de licitação para contratação do serviço não são compatíveis com a urgência da estatal pela operação. Ficou decidido que, quando esse segundo laudo ficar pronto, o que deve ocorrer em setembro, haverá a primeira revisão das condições da etapa da capitalização chamada de cessão onerosa, na qual o governo transfere o direito de exploração dos barris do pré-sal à Petrobras. Conforme o valor do segundo laudo, poderá haver um ajuste para mais ou para menos, que será corrigido por meio da quantidade de barris que a Petrobras terá direito de explorar - e não em dinheiro. Mas a tensão inicial em torno disso não parece grande. Emerson Leite, analista do Credit Suisse, acredita que o laudo da ANP não será muito diferente do obtido pela Petrobras. Haverá ainda uma segunda revisão, prevista desde o início, que será feita entre um ano e dois anos após a capitalização, em dinheiro, conforme estiverem mais claros o valor do óleo cedido e o custo de exploração. A oferta é estimada entre US$ 40 bilhões e US$ 65 bilhões. A Petrobras vale na Bovespa cerca de US$ 185 bilhões. Assim, a operação significa uma expansão de 22% a 35% do capital. A companhia estima que a demanda do mercado pelas ações seja de US$ 20 bilhões a US$ 25 bilhões. Leite, do Credit Suisse, avalia que as mudanças mostram que a Petrobras não abre mão da capitalização até julho. E, nesse caso, ele pondera que "a oferta pública é melhor para a ação e gera menos pressão de venda porque amplia o universo de compradores". Mas nem todos pensam assim sobre a demanda. Antes, o que se imaginava é que boa parte do dinheiro viria de novos investidores, especialmente asiáticos e árabes, que comprariam dos minoritários da estatal os recibos de subscrição (direito às novas ações). "Agora, não haverá mais esse mercado secundário dos direitos", explicou Gilberto Pereira de Souza, analista da BES Securities. "Quem estiver interessado compra direto." A oferta garantirá prioridade aos atuais acionistas da empresa na reserva de ações. Seja qual for a modalidade, a União já afirmou diversas vezes que possui interesse em comprar os papéis que o mercado não absorver. Dentro da faixa de valores estimada, e considerando a demanda projetada pela estatal, a participação da União no capital da Petrobras, atualmente em 32%, pode aumentar para 35% ou 40%. Inicialmente, a projeção era que o governo federal poderia alcançar fatia de até 60%. Segundo Nelson Rodrigues de Matos, analista do BB Investimentos, na capitalização privada seria mais fácil a União aumentar sua participação. Por outro lado, se o interesse dos minoritários fosse muito reduzido, a Petrobras receberia menos dinheiro do que precisa. "Mais do que as reservas, a empresa quer o dinheiro", afirma. Não houve mudança na estrutura da cessão onerosa, em que a União comprará ações com títulos públicos. Em seguida, esses títulos serão usados para pagar o governo pelo direito de exploração. Mas a preocupação dos investidores com a viabilidade da operação não desapareceu. A capitalização será uma das maiores emissões de ações já realizadas no mundo. A partir de junho, começam as férias de verão no Hemisfério Norte, reduzindo a atividade financeira, o que coloca o mercado em alerta. (Colaboraram Fernando Torres e Alessandra Bellotto)