Título: Para FMI, o juro no Brasil deveria ser de 12% a 12,5%
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2010, Finanças, p. C3

O Fundo Monetário Internacional (FMI) calcula que os juros no Brasil deveriam estar entre 12% e 12,5% ao ano para não pressionar a inflação. Se as estimativas estiverem corretas, o atual ciclo de aperto monetário feito pelo Banco Central deve ser de mais de três pontos percentuais, partindo dos juros de 8,75% ao ano vigentes até o início da semana passada. Hoje, a taxa está em 9,5% ao ano.

No seu relatório econômico para as Américas, divulgado ontem, o FMI calcula o quanto os juros dos países da região estão distantes da chamada taxa neutra de política monetária. A taxa neutra, também conhecida como taxa de equilíbrio, é o percentual em que os juros não provocam aceleração nem desaceleração da inflação. Ele varia de país a país e depende de fatores como a produtividade.

Os economistas do FMI calculam a taxa neutra com duas metodologias. Numa delas, concluem que os juros vigentes até a semana passada, em 8,75% ao ano, estão algo como 3,25% abaixo da taxa neutra, que seria da ordem de 12% ao ano. Pela outra metodologia, estariam cerca de 3,75% abaixo da taxa neutra, estimada ao redor de 12,5% ao ano.

Não há nada de errado em a taxa de juros ter caído abaixo da taxa neutra: os BCs normalmente cortam os juros para estimular as economias quando elas rodam abaixo do seu potencial. A crise financeira internacional fez com que boa parte das economias do mundo entrassem em recessão, e os BCs, incluindo o brasileiro, tiveram que reagir.

O FMI, porém, aponta que chega a hora de subir os juros para evitar o superaquecimento das economias mais dinâmicas da América Latina. Para dar uma ideia do quando a política monetária está expansionista, o FMI calculou a distância dos juros em várias economias da região da chamada taxa neutra. No Chile, por exemplo, o estímulo foi bem maior, de cerca de 5,5 pontos percentuais. O México, por outro lado, promoveu um estímulo mais modesto, proximo de 2 pontos percentuais.

A intuição econômica por trás da taxa neutra é que, se os juros ficam muito baixos, as economias crescem acima do chamado Produto Interno Bruto (PIB) potencial, uma medida de quando o país pode se expandir sem pressionar a inflação. O FMI não diz quanto é o PIB potencial brasileiro de longo prazo. Mas afirma que o crescimento projetado para este ano, de 5,5%, está algo como 0,5 ponto percentual abaixo do potencial. Ou seja, se o Brasil crescer muito acima de 6% em 2010, as pressões inflacionárias vão se acumular.

O cálculo tanto da taxa neutra de juros como do PIB potencial têm provocado muita polêmica no Brasil nos últimos anos. Economistas mais a esquerda acham que não há limites para o crescimento, pois a produção se ajustaria automaticamente à maior demanda, sem provocar a aceleração da inflação.

Outros economistas admitem que existe uma taxa neutra de juros, mas observam que ela muda ao longo do tempo e que é muito difícil de calcular. O próprio BC brasileiro tem uma atitude bastante pragmática em relação à taxa neutra. A instituição reconhece que esse é um instrumento importante do ponto de vista teórico, mas só pode de fato ser determinado na prática, com o manejo cuidadoso da taxa básica de juros.

O FMI prega, no relatório, que os países da região usem também a política fiscal para lidar com o crescimento excessivo da economia. A sobrecarga nos juros, diz o FMI, poderá levar à valorização adicional das taxas de câmbio e provocar déficits em conta corrente, que deixam os países vulneráveis a crises internacionais.

No caso do Brasil, porém, o Fundo Monetário registra que o estímulo fiscal feito no auge da crise, que o organismo estima em cerca de 0,5% do PIB, já foi desmontado. O FMI observa, por outro lado, que o Brasil produziu um estímulo quase fiscal da ordem de 3% do PIB por meio de seus bancos públicos.