Título: Crise grega já contagia Espanha
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2010, Finanças, p. C1

Financial Times

Os mercados globais foram abalados ontem pelos temores de um agravamento da crise da dívida da zona do euro e preocupações com a situação da economia da China. Uma onda de vendas nos mercados asiáticos foi acelerada na Europa e nos Estados Unidos, em meio a novos temores de que o pacote internacional de socorro à Grécia de ¿ 110 bilhões (US$ 143 bilhões) poderá não ser suficiente para impedir o contágio para outros mercados de dívida da zona do euro.

No Brasil, os negócios também foram afetados pelo sentimento de aversão ao risco que assolou o mundo. O Ibovespa despencou 3,35%, aos 64.869 pontos, o menor nível desde o dia 9 de fevereiro (64.718 pontos). Em apenas três sessões, o índice acumula perda de 4,57%. Já os contratos de juros futuros, negociados na BM&F, tiveram forte elevação. A pressão foi mais intensa nas taxas de longo prazo, nas quais os investidores externos têm maior exposição. O DI para janeiro de 2012, por exemplo, encerrou o pregão projetando taxa de 12,55%, ante 12,46% na véspera. Em meio ao movimento de saída dos players internacionais, o dólar disparou. A cotação saltou 1,67%, para R$ 1,761, a maior alta desde 4 de fevereiro, quando a moeda ganhou 2,16%.

O movimento de valorização da moeda americana foi observado também no exterior. O euro caiu 1,3% para US$ 1,30, nível visto pela última vez em abril de 2009.

Já as ações europeias recuaram para os menores patamares em dois meses, enquanto os mercados de bônus das economias mais fracas da zona do euro também caíram, com os investidores agitados tentando desfazer suas posições. Nick Chamie, estrategista da RBC Capital Markets, disse: "Essa é uma grande onda de vendas. Está espalhada pelo globo e em quase todas as classes de ativos".

O índice Vix, termômetro da volatilidade esperada no mercado de ações, atingiu ontem o maior nível em onze semanas, em meio a rumores de que a Espanha estaria tentando conseguir empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) por causa da deterioração de suas finanças públicas.

O primeiro-ministro espanhol José Luis Rodríguez Zapatero classificou, furioso, as alegações de que a Espanha estaria negociando um socorro de ¿ 280 bilhões com o FMI, de "insanidade completa". O FMI também negou esses rumores.

Zapatero disse em Bruxelas ser "simplesmente intolerável" que esses boatos estejam prejudicando os interesses da Espanha e poderão aumentar o custo da captação de recursos pelo país, através de emissões de bônus. Houve, ontem, uma disseminação das especulações de que o Banco Central Europeu (BCE) poderá ser forçado a comprar bônus de governos da zona do euro para reverter a crise de confiança na Europa, onde os investidores temem que a reestruturação da dívida grega possa deixá-los com grandes perdas.

Indicadores mais fracos sobre a produção industrial da China pesaram sobre os mercados da Ásia antes que as preocupações com um contágio se espalhassem pela Europa. Os mercados de bônus da Grécia, Espanha e Portugal, que estão no centro da crise da zona do euro, registraram as maiores quedas, com o aumento dos temores de que as dívidas desses países poderão ter de passar por uma reestruturação.

Os rendimentos dos bônus gregos de dois anos subiram 3 pontos percentuais, para 13,5%; os rendimentos dos bônus portugueses de dois anos subiram 1 ponto percentual para 4,23%; e os rendimentos dos bônus espanhóis subiram um quarto de ponto, para 2,16%. (com agências)