Título: Espanha atende Lula e desconvida hondurenho
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2010, Brasil, p. A3

O Brasil recebeu sinalização da Espanha que terá atendida a exigência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: o presidente de Honduras, Porfírio Lobo, não participará da Cúpula UE-América Latina e Caribe, dia 18 em Madri. Sua presença será limitada a um encontro entre UE e América Central para anúncio de um acordo comercial.

Lula tinha ameaçado não participar da cúpula se Lobo fosse convidado para o principal evento anual entre as duas regiões. Até Lula endurecer o tom, diplomatas espanhóis diziam que Lobo tinha já aceitado o convite para a cúpula e seria recebido "de braços abertos".

Brasília considerou que os espanhóis estavam "forçando a barra" com Lobo, pois seu governo não é reconhecido pelo Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Venezuela, Bolívia, Equador e Cuba. Para Lula, não tem sentido apressar o reingresso de Honduras sem ter avançado satisfatoriamente na reconciliação nacional.

O incidente diplomático parecia ontem aparentemente resolvido, mas terá sequelas na cúpula, rachada sobre a situação de Honduras no rastro do golpe militar do ano passado.

A Comissão Europeia, que assume cada vez mais a diplomacia da região, agora com a alta representante Catherine Ashton, evitou arranhões diretos com o Brasil, jogando o problema para a presidência espanhola da UE.

Agora, o que a UE deve fazer com Lobo e representantes da Costa Rica, Nicarágua, El Salvador, Guatemala e Panamá é anunciar em Madri que haverá um acordo de livre comércio, mas provavelmente sem assinatura, que continua pendente de negociação final.

A UE ofereceu cota de 150 mil toneladas de açúcar, mas a Guatemala insiste em 200 mil. Também ofereceu cota de apenas 9.500 toneladas de carne bovina, com aumento de 4% por ano, enquanto a América Central pedia 150 mil toneladas. Para arroz, a cota é de 15 mil toneladas com aumento de 5% por ano, mas os países querem 80 mil toneladas. Bruxelas quer estabelecer salvaguarda especial contra a banana, para reduzir a tarifa de importação de ¿ 176 para ¿ 75 por tonelada.

Ontem, na cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que reuniu presidentes e chanceleres de 12 países nas imediações de Buenos Aires, o presidente do Equador, Rafael Correa, falou em nome do grupo sobre a situação de Honduras. "Não há nada o que ocultar, há um mal-estar majoritário", afirmou, referindo-se ao convite, pelo governo espanhol, para a participação de Honduras no encontro UE-América Latina.

Para o equatoriano, a Espanha cometeu uma "leviandade" ao fazer o convite e "vários dos países" que integram a Unasul avaliaram ontem a possibilidade de não comparecer à cúpula. "Queremos ir, mas não vamos claudicar nos nossos princípios e nas nossas condições", disse. "Não é gratuita essa posição. O que ocorreu é um antecedente funesto. Aponta-se a baioneta a um presidente constitucionalmente eleito, e é como se não tivesse ocorrido nada."

O presidente Lula propôs uma moção - apoiada por Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Uruguai e Venezuela - para garantir a volta de Zelaya a Honduras e restituir seus direitos políticos. Colômbia e Peru, que reconheceram o governo de Lobo, se opuseram. A situação do país foi debatida por cerca de uma hora. Correa vai transmitir ao primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero, a insatisfação da maioria dos líderes sul-americanos com o convite. (AM, colaborou Daniel Rittner, de Campana)