Título: Lula usa relações com Bush, Lugo e Evo como exemplo de diálogo
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2010, Brasil, p. A3

De Jerusalém

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva buscou em suas relações com ospresidentes dos Estados Unidos, George W. Bush, do Paraguai, FernandoLugo, e da Bolívia, Evo Morales, exemplos para defender a crença napossibilidade de um acordo entre israelenses e palestinos. Em semináriopara empresários de Israel e Brasil, citando as demandas dos vizinhos,comentou, sob risos, que, depois de se eleger, com apoio brasileiro, "oprimeiro discurso do Evo Morales foi tomar a Petrobras". O Brasil, disse, reconheceu o direito da Bolívia ao gás e "cedeu no que tinha de ceder". "Possivelmentepor causa de minha origem eu não conseguia perceber por que ummetalúrgico de São Paulo iria brigar com um índio boliviano", gracejouo presidente, defendendo a chegada de Morales ao poder na Bolívia. "Oíndio está provando ser capaz de governar a Bolívia", elogiou. "Osíndios descobriram que têm de votar nos índios, que é a coisa maisnormal", disse. "Anormalidade era um presidente louro de olhos azuisque quase nem falava espanhol governar a Bolívia", afirmou a umasilenciosa plateia de empresários, muitos de cabelos e olhos claros, emum país onde uma das questões mais sensíveis é a reivindicação de maiorpoder por parte dos palestinos e árabes de pele morena. "Nãonos interessa sermos um país grande e rico se estivermos cercados depaíses menores com pessoas muito pobres", resumiu Lula, após defender acapacidade de diálogo do Brasil com as reivindicações de Bolívia eParaguai. Lula lembrou que, depois de rechaçar conversas de Bush sobrea iminente guerra no Iraque, acreditou ter provocado a animosidade doamericano. "Para um presidente latino-americano exercer mandato semfalar mal dos EUA é quase impossível", brincou, para dizer queconseguiu chegar ao fim do mandato sem brigas ou divergênciasinsuperáveis com os americanos. "Acho que o vírus da paz está comigodesde quando ainda estava no útero da minha mãe", concluiu. Acolorida retórica de Lula foi seguida, em seus compromissos em Israel,por elogios das autoridades à sua história pessoal. Mas não alterou emnada o teor das manifestações dos políticos. O primeiro-ministroBenjamin Netanyahu fez uma enfática defesa de sua estratégia para osterritórios palestinos e da construção de casas em locais que ospalestinos consideram a capital de seu futuro Estado. "Nenhum governode Israel limitou a construção de casas em Jerusalém", disse Netanyahu,ressaltando um dos maiores pontos de conflito entre os dois povos. (SL)