Título: Relação com MST leva pecuaristas a apoiar Serra
Autor: Maia , Samantha
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2010, Política, p. A10

A pré-candidata à Presidência do PT, Dilma Rousseff, pode preparar o discurso que for, declarar-se contra invasões de terra, mas a realidade presenciada na Expozebu 2010, em Uberaba (MG), é de que será difícil superar a desconfiança dos pecuaristas em relação à sua política. O passado de militância socialista da ex-ministra, somado à postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o Movimento dos Sem-Terra (MST), considerada condescendente pelo agronegócio, faz de Dilma uma candidata que deixa o setor "aterrorizado", segundo um influente pecuarista que pediu para não ser identificado. "Temos medo do histórico de Dilma", diz .

Já o pré-candidato do PSDB, José Serra, conta com a simpatia do grupo e é elogiado pela forma como tem lidado com o MST em São Paulo. Nem mesmo sua política de arrecadação de impostos, avaliada por pecuaristas como abusiva, interfere na avaliação da categoria sobre ele. "O Serra não é produtor, mas nas oportunidades que teve, lidou bem com os problemas de invasão e procurou pacificar regiões de conflito", diz Paulo Ferolla, diretor da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Como Serra consegue pacificar? "Agindo antes, se há um agrupamento de pessoas sem fazer nada em frente a uma propriedade, a polícia chega antes da invasão e tira eles de lá", explica Ferolla.

Entre as principais reivindicações do setor estão ter segurança contra as invasões de terra, mais investimentos em logística para escoamento dos produtos, e uma política de preço mínimo e de seguro à produção.

Ainda como ministra-chefe da Casa Civil, Dilma esteve em março deste ano em Uberaba com os pecuaristas para conhecer o setor de criação de zebu. "Dilma conhecia pouco de pecuária, e ficou muito surpresa com o que viu", diz José Olavo Borges, presidente da ABCZ. Serra foi convidado para participar de uma reunião com a entidade no fim do mês, e Borges diz que espera receber, inclusive, a pré-candidata Marina Silva (PV), apesar de suas posições divergentes com o setor. "Somos uma entidade apartidária, mas política", diz ele.

Essa postura aberta é compreensível, já que a resistência do grupo à candidatura de Lula em 2002 foi contornada posteriormente com as escolhas do presidente para a pasta da agricultura. O ministério foi ocupado por pessoas entrosadas com o agronegócio, como os ex-ministros Roberto Rodrigues e Reinhold Stephanes. "Felizmente tivemos ministros próximos ao setor nos mandatos de FHC e Lula", diz Borges.

Os pecuaristas contaram com um representante na secretaria executiva do ministério no começo do primeiro mandato de Lula. José Amauri, presidente da Associação dos Criadores de Brahman do Brasil (ACBB), conta como foi estar à frente do processo de liberação do uso de sementes transgênicas no país em 2004. "Foi difícil, enfrentei manifestação dos Sem-Terra, de radicais do PT, mas Lula sempre esteve aberto a ouvir o agronegócio", diz.

Dessa forma, ele afirma: "Se é melhor Dilma ou Serra, é relativo". Em tese, o setor não espera grandes mudanças, independente de quem ganhar as eleições. Presente na feira de gado zebu no último sábado, o ministro do STF Gilmar Mendes diz que não acredita que a proximidade de Dilma com o MST possa atrapalhar o diálogo da pré-candidata com os pecuaristas. "O Brasil atingiu um estágio muito importante de estabilidade financeira e institucional, que é o respeito às regras do jogo, à Constituição", diz. Ele acrescenta que o Judiciário está menos flexível sobre as invasões. "Entendendo que elas de fato traduzem violência." Mendes possui investimentos familiares no setor pecuário no Mato Grosso.

Quando o assunto é governo Lula, há divergências entre os pecuaristas. Para Borges, o setor teve conquistas importantes, como a importação de novas linhagens de bovinos da Índia. Para Ferolla, porém a continuidade da política atual seria muito ruim. Um pecuarista, em off, diz que votou em Lula, mas não vota na Dilma. Osório Adriano, pecuarista e deputado federal suplente do DEM, explica a posição do setor. "A simpatia é muito mais com o Serra, ele defende a propriedade. Dilma é mais radical."

A recepção mais acalorada à Dilma da Expozebu 2010 ficou por conta dos pequenos produtores. Em uma cerimônia da Associação das Mulheres Rurais de Uberlândia e da Região, ontem após a abertura oficial do evento, a ex-ministra foi exaltada como candidata preferida à presidência da República. Uma das representantes das mulheres, a médica Hélia Angotti, falou sobre os contrastes da região e foi aplaudida ao defender o apoio à Dilma. "Enquanto um zebu é vendido por R$ 1 milhão, muitas pessoas vivem com salários baixíssimos." Serra foi direto para almoço na fazenda Mata Velha, do pecuarista Jonas Barcelos, para onde Dilma seguiu após a cerimônia com as mulheres.

O deputado federal Antônio Palocci (PT), coordenador da campanha, amenizou a distância de Dilma com os pecuaristas. "Dilma está bem a vontade na campanha com o tema da agricultura porque ela acompanhou isso sete anos e meio no governo, ela trabalhou com as questões do financiamento da agroindústria e da agricultura familiar, então ela não tem dificuldade em dialogar com os dois."