Título: Desaceleração da aprendizagem
Autor: Magalhães, Camila de
Fonte: Correio Braziliense, 05/07/2010, Brasil, p. 6

Segundo a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria Pilar, a articulação com estados e municípios foi fundamental para a alteração positiva nos índices do Ideb. Na avaliação do governo, isso ajudou a reforçar o corpo técnico das instituições de ensino que muitas vezes sentem as transformações quando há troca de gestores. ¿Com isso, as equipes técnicas ganham força e independem menos das mudanças¿, afirma a secretária.

Além disso, a secretária atribui a melhoria dos índices à diminuição na reprovação e a melhoria do aprendizado nas séries iniciais. ¿Não podemos avaliar que tudo está à mil maravilhas, mas o Estado aponta uma melhora consistente¿, diz ela.

Maria Pilar também evita fazer comparações dos índices entre estados, alegando que as características regionais são distintas.

¿Como gestora não posso comparar o incomparável. Ou seja, é como comparar fotos de várias crianças de diversos países, que são diferentes¿, ressalta a secretária. Segundo ela, o que há para analisar são as conjunturas estaduais.

Atribuir ao Ideb a confirmação ou não da qualidade de ensino é algo que deve ser visto com cuidado, na avaliação de Mozart Neves Ramos, presidenteexecutivo do movimento Todos pela Educação. Ele destaca que as diferenças de realidade podem ser percebidas de escola para escola e alerta que são observados índices muito díspares entre municípios e unidades da federação.

Mozart faz uma comparação com a Finlândia, onde as mesmas oportunidades educacionais são oferecidas a pequenas e grandes cidades. ¿No Brasil, temos uma fotografia transversal importante. Colocou-se a cultura de metas para incentivar os gestores públicos, mas, ao especificar o conceito de qualidade, deixamos de ver o mosaico como um todo¿, pondera o especialista, ao lembrar que o Ideb reflete a não equidade das escolas e municípios.

Para ele, devem ser analisados aspectos socioeconômicos e de investimento por aluno.

Minas Gerais e DF aparecem empatados com nota 5,6 nas séries iniciais do ensino fundamental.

No entanto, o custo por aluno mineiro chega a ser duas vezes menor do que o do brasiliense. ¿Quando se analisa a questão socioeconômica e financeira, ou Minas faz muito com pouco ou o DF poderia fazer mais¿, avalia Mozart. No que diz respeito a taxas, o representante do Todos pela Educação salienta que o esforço para alcançar o índice 6 é muito maior para quem está mais próximo dele.

¿É muito mais simples passar de 4 para 4,4 do que de 5,6 para 6.¿ Quanto à queda de nota na capital do país entre alunos de ensino médio, Mozart explica que o fenômeno reflete uma forte desaceleração da aprendizagem das séries iniciais para o fim da educação básica, algo preocupante. O DF ficou 1 ponto aquém da meta nacional, que era de 4,6. ¿A criança tem uma escola de qualidade no começo e, à medida que vai progredindo, perde o ritmo. Você analisa o Piauí, com tantas dificuldades e escassez de professores. Não se justifica uma diferença somente de 0,8 entre o último colocado e o DF.¿ Para o especialista, é necessário rever a política local para o ensino médio, a gestão escolar e a proposta pedagógica desta etapa de formação.