Título: Seguro do compulsório ultrapassa R$ 300 bi
Autor: Bittencourt , Angela
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2010, Finanças, p. C1

Já supera R$ 300 bilhões o "seguro" do sistema bancário brasileiro contra uma nova crise de liquidez, caso o pacote de ajuda à Grécia seja considerado insuficiente para abortar a aversão a risco que vem pautando os mercados internacionais.

O seguro corresponde ao saldo do recolhimento compulsório sobre depósitos feito pelas instituições ao Banco Central e o valor acumulado hoje é nominalmente 20% maior que o existente em 2008, antes da crise. Os recolhimentos dispararam, confirmando, na terceira semana de abril, a reversão de uma das medidas adotadas a partir de outubro de 2008 para atenuar os efeitos da crise que respingou mais recentemente nas economias do Mediterrâneo, fazendo emergir déficits fiscais espetaculares e com eles o temor de moratória de dívidas soberanas.

Durante a fase de maior aperto na oferta de moeda durante a crise internacional, que travou a oferta de crédito no mercado doméstico, a liberação de recolhimentos compulsórios rondou R$ 100 bilhões - valor praticamente devolvido à autoridade monetária nos últimos dois meses.

Em fevereiro, dando prosseguimento ao desmonte de medidas adotadas em caráter excepcional, o BC anunciou alterações no recolhimento sobre recursos a prazo e na exigibilidade adicional sobre depósitos com efeito a partir de março.

As estatísticas da instituição mostram que o saldo dos compulsórios avançou R$ 89 bilhões para R$ 307 bilhões, do final de fevereiro a 23 de abril, superando nominalmente em quase 20% o montante de compulsório mantido no BC na arrancada da crise, em 2008.

Ao divulgar a reversão das regras, o BC indicou que estava antecipando-se a boas práticas prudenciais internacionais. Especialistas concordam com o papel do compulsório como seguro contra aperto de liquidez como bem demonstrou o Brasil. Mas questiona-se o tamanho desse seguro que é um instrumento de política monetária.

Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor de Política Monetária do BC e sócio-diretor da Mauá Sekular Investimentos, reconhece a importância do uso dos compulsórios como reserva de liquidez na crise, mas considera que eles são elevados no Brasil, sob qualquer medida. Márcio Garcia, economista da PUC-RJ, tem opinião semelhante. "O uso feito pelo BC para irrigar o mercado com a queda abrupta do crédito foi oportuna, mas isso não justifica níveis tão elevados. Se o compulsório é importante como reserva de liquidez, o Brasil deve migrar para outro instrumento, com este fim específico. O mundo está caminhando para isso."