Título: UE e Mercosul aceleram negociações para concluir acordo de livre comércio
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2010, Brasil, p. A4

O Mercosul e a União Europeia (UE) vão começar rapidamente a trocar ofertas de liberalização para concluir o acordo de livre comércio birregional num prazo que não demore anos, como ocorreu até agora, sinalizam negociadores. Em Madri, no dia 17, os chefes de Estado e de governo dos dois blocos vão fazer o relançamento formal da negociação. Em seguida, uma reunião técnica vai definir o calendário das discussões, para iniciar as barganhas depois das férias de verão da burocracia europeia, em agosto.

"A União Europeia estabeleceu como condição do relançamento da negociação a possibilidade elevada de desfecho do acordo, e que seja no curto prazo", afirmou Jean-Luc Meriaux, secretário-geral da União Europeia de Comércio de Gado e Carne (UECBV, em francês), que inclui importadores e varejo.

Em 2004, a União Europeia ofereceu cota de 100 mil toneladas para a entrada de carne bovina do Mercosul com tarifa menor. O bloco quis três vezes mais, 300 mil toneladas. Dois anos depois, os europeus sinalizaram com uma espécie de compromisso: uma cota de 150 mil toneladas, dividida em duas parcelas, uma dada pelo acordo birregional e outra só depois da conclusão da Rodada Doha, de liberalização comercial, na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Nas últimas semanas, Bruxelas já avisou que sua margem para concessões é extremamente limitada na área de carnes. Ainda mais diante da enorme pressão dos franceses e irlandeses. O fato é que a questão do acesso de carnes do Mercosul será um ponto "nevrálgico" na barganha. Ilustrando essa situação, os serviços do comissário agrícola da União Europeia E divulgaram ontem precisamente uma tabela apenas com as importações de carnes procedentes do bloco sul-americano.

O Mercosul era responsável por 90,5% de toda a carne bovina importada pela União Europeia E em 2007. O percentual caiu para 82,5% no ano passado, por por causa das barreiras sanitárias impostas por Bruxelas contra a carne brasileira. A medida derrubou a exportação do país em 58,2% para o mercado comunitário. O Brasil também tem grande participação na venda de carne de frango para a UE. Em contrapartida, o Mercosul não vende uma tonelada sequer de carne suína, também por causa das barreiras sanitárias estabelecidas por Bruxelas.

A negociação será facilitada, porque os dois blocos já mapearam bastante os pontos centrais do acordo, nas últimas quatro reuniões desde junho do ano passado, ocorridas em Lisboa, Buenos Aires e Bruxelas.

A reunião entre os líderes do Mercosul e da UE será no dia 17. No dia seguinte, haverá a cúpula UE-América Latina. A Espanha voltou a dar garantias de que o presidente de Honduras, Porfírio Lobo, não aparecerá na sala de reuniões, como exigido pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.