Título: Para brasileiro, papel do sistema financeiro foi ignorado
Autor: Villaverde, João
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2010, Brasil, p. A4
De São Paulo
Os economistas americanos, como os brasileiros, se dividem entre os que defendem uma participação maior do Estado na indução do crescimento econômico, e os que trabalham com um papel mais enxuto do Estado, legando à iniciativa privada a missão de conduzir a atividade. Nos Estados Unidos, os economistas mais heterodoxos, pró-Estado, são conhecidos como pertencentes às "águas salgadas", em referência às universidades de centros urbanos cortados pelo mar, como de Nova York, Princeton (Nova Jersey), Berkeley e Stanford (Califórnia) . Os analistas liberais - ou neoliberais -, por outro lado, são chamados de economistas de "água doce", porque pertencentes à universidades de Chicago e Rochester, entre outras, perto dos Grandes Lagos. José Alexandre Scheinkman refuta qualquer dessas etiquetas. Obteve doutorado em Rochester e foi diretor do Departamento de Economia da Universidade de Chicago, o que o caracterizaria como genuíno economista de "água doce". Por outro lado, Scheinkman é professor da Universidade de Princeton, um dos berços do pensamento da legião de "águas salgadas". O pensamento econômico americano, independentemente de seus pressupostos ideológicos, está "estagnado", diz Scheinkman. "Os dois lados não entendem o mercado financeiro", diz. O governo americano historicamente investe muito em suas universidades, sejam elas públicas ou privadas. Nas instituições tocadas pela iniciativa privada, o governo entra com renúncia de impostos e financiamento especial para pesquisa. Ainda assim, avalia Scheinkman, os economistas "ignoraram" o papel do sistema financeiro na economia. O atual presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, considera Scheinkman, era um dos poucos que, quando na academia, conseguia "fazer a conexão entre sistema financeiro e economia real". Scheinkman conta que é convidado por analistas do mundo real, ligado a empresas, para falar sobre finanças. "É possível e desejável unir os dois e os americanos perderam a mão nisso", diz. (JV)