Título: Pacote de US$ 1 trilhão tenta salvar o euro
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2010, Internacional, p. A9
Agências internacionais
A União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) definiram ontem um pacote de emergência de ¿750 bilhões (US$ 955 bilhões) para impedir o colapso do euro. O Banco Central Europeu (BCE) voltou atrás e decidiu comprar títulos dos governos europeus no mercado secundário. Além disso, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) informou que retomou uma linha de swap para a troca de euros por dólares, para aumentar a liquidez no mercado europeu. Reunidos em Bruxelas por 14 horas, os ministros de Finanças dos países da UE discutiram a adoção de medidas que envolvem somas muito superiores às cogitadas nas últimas semanas, com o objetivo de pôr um fim à turbulência nos mercados financeiros, que vêm afetando especialmente Grécia, Portugal e Espanha. O pacote da UE consiste num programa de ¿440 bilhões em empréstimos com garantias dos governos para qualquer país da zona do euro que enfrente problemas graves com suas dívidas, além de um aumento de ¿ 60 bilhões numa linha de crédito para o balanço de pagamentos. Apenas os 16 países da Eurolândia vão contribuir para a primeira modalidade de ajuda. Na segunda, todos os 27 membros da União Europeia vão participar. A ministra das Finanças da Espanha, Elena Salgado, informou que o FMI deverá entrar com metade do valor do pacote europeu - ¿ 250 bilhões. "Nós enfrentamos circunstâncias excepcionais hoje e o mecanismo ficará disponível o tempo necessário para garantir a estabilidade financeira", afirmaram os ministros europeus, em comunicado. Na semana passada, o euro perdeu 4,1% do seu valor, o maior tombo registrado nesse período desde a quebra do Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008. De novembro para cá, o euro teve desvalorização de 15%. Sinal da gravidade da situação é que o BCE decidiu iniciar "operações muito significativas" no mercado, segundo o comissário da UE Olli Rehn. Na semana passada, o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, tinha rechaçado as pressões para que a instituição comprasse no mercado títulos de governos europeus. As declarações de Trichet foram o estopim para uma forte turbulência nos mercados globais quinta-feira. Espanha e Portugal, que começaram a enfrentar problemas semelhantes aos da Grécia, se comprometeram a tomar duras medidas fiscais em 2010 e 2011, segundo o comunicado. Os dois países vão apresentá-las no encontro dos ministros de Finanças da UE na semana que vem. O tamanho da operação indica a disposição dos governos em deixar claro que farão o possível para impedir o colapso da união monetária europeia, uma das mais importantes instituições da integração do continente. "Nós vamos defender o euro", disse a ministra das Finanças da Espanha. "Nós acreditamos ter a obrigação de dar mais estabilidade à nossa moeda. Faremos tudo o que for necessário." O temor de um calote grego e de que países como Portugal e Espanha se tornem a bola da vez tem feito estragos nos preços dos ativos europeus. "Nós agora vemos comportamentos de manada, e se nós não a contivermos, mesmo se isso for uma fragilidade criada por ela própria, isso vai acabar por dilacerar os países mais fracos", disse ontem o ministro das Finanças sueco, Anders Borg, a repórteres quando chegava ao encontro de ministros em Bruxelas.