Título: CNI faz escolha para unificar lobby industrial
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2010, Especial, p. A12

de Belo Horizonte

Na próxima semana a Confederação Nacional da Indústria (CNI) deverá eleger o seu primeiro presidente de origem fora do Nordeste desde 1968 e o primeiro sem mandato parlamentar desde 1980. Mineiro de São João Del Rey, ex-filiado ao PFL, amigo e aliado do ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB), o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Robson Braga de Andrade deverá ser eleito em chapa única, como sempre ocorreu na entidade, no dia 12 de maio. Tem o apoio expresso do atual presidente, o deputado federal Armando Monteiro Neto (PTB-PE), que deverá concorrer ao Senado este ano, e a sustentação do vice-presidente José Alencar, que foi presidente da Fiemg nos anos 90. Foi em função de Alencar que Andrade tornou-se em 2002 um dos raros chefes da indústria a declarar apoio à eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ascensão de um presidente fora do âmbito do Congresso e do Nordeste marca o movimento da CNI para centralizar o lobby da indústria junto ao governo federal e ao Congresso. Desde a saída do fluminense Edmundo Macedo Soares da entidade em outubro de 1968, a CNI foi presidida por empresários cearenses do setor têxtil por 12 anos, ficou sob o comando do ex-governador sergipano e ex-senador Albano Franco entre 1980 e 1994 e do ex-senador e ex-ministro potiguar Fernando Bezerra entre 1995 e 2002. O paulista Mario Amato exerceu interinamente a presidência por um ano, entre o afastamento de Albano Franco para a campanha ao governo de Sergipe e a eleição de Bezerra. Era um tempo em que a entidade sofria a concorrência de outras associações patronais da indústria pela interlocução com o governo e com o parlamento. A crise de representatividade da CNI chegou ao auge em 2002, quando Monteiro prevaleceu depois de vencer resistências junto a empresários mineiros, paulistas e fluminenses. Desde então, o parlamentar pernambucano investiu muito na tentativa de unificar o setor. Criou, para aproximar-se dos grandes grupos industriais, o Fórum Nacional da Indústria. Houve o entendimento tácito que seu sucessor teria que ser de fora do Nordeste e ter um perfil mais empresarial. Um forte concorrente para a função, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, abriu mão de concorrer para arriscar uma candidatura ao governo de São Paulo pelo PSB neste ano. Caso não consiga viabilizar seu nome, Skaf tem a opção de tentar mais um mandato à frente da entidade patronal paulista. Vice-presidente da CNI, Skaf deve assumir o comando da entidade entre junho e outubro, se não concorrer nas eleições deste ano. No comando da Fiemg, Andrade deixa um sócio minoritário, o empresário Olavo Marcondes. Marcondes vendeu 51% da Macorin, uma fábrica de transformadores para a Orteng, a empresa do futuro presidente da CNI. De divergente em relação a Andrade, Marcondes tem apenas a matriz política. Nos anos 80, o futuro presidente da Fiemg colaborou com o governo de Newton Cardoso, do PMDB, um adversário total de Aécio Neves. Após consolidar o seu nome eleição na CNI, no fim do ano passado, Andrade reuniu na Fiemg em Belo Horizonte no mês passado, em dois eventos separados, os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Ao saudar Dilma, Andrade burocraticamente fez apenas menções a demandas regionais que haviam sido levadas à petista em seu tempo no Ministério da Casa Civil. Na apresentação de Serra, o empresário fez um discurso em que antecipou alguns pontos de seu programa à frente da entidade patronal. Afirmou que há o risco de uma "escalada de retrocessos", caso o Brasil continue a ser fundamentalmente um exportador de commodities. Disse que o crescimento da arrecadação tributária do governo foi devorado com o aumento das despesas públicas. E queixou-se da participação na negociação de políticas públicas dos movimentos sociais e pediu a diminuição do tamanho do Estado.