Título: Dinâmicas de longo prazo mudam
Autor: Cotias, Adriana ; Pinto, Lucinda
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2010, Finanças, p. C1

de São Paulo

O aumento na renda e no emprego formal mudam a dinâmica de longo prazo da taxa de inadimplência, de acordo com Octavio de Barros, diretor do Departamento de Economia do Bradesco. "A redução da desigualdade pela qual o país está passando afeta o crédito de forma estrutural e duradoura", defende. "Estamos vivendo uma transformação silenciosa na distribuição de renda no país", diz ele. Se um número maior de pessoas têm carteira assinada, a massa de rendimento tende a se mostrar mais estável, o que reduz o risco de inadimplência. Ele calcula em um total de R$ 4,622 bilhões o crescimento na massa de rendimentos (salários e benefícios do INSS) no primeiro trimestre em termos dessazonalizados e deflacionados. Em 2009, o aumento foi de R$ 1,56 bilhão. Octavio de Barros lembra que o aumento do emprego dessazonalizado e anualizado no primeiro trimestre projeta a geração de 2,6 milhões de empregos formais no país. E acrescenta que o índice do Ibope/CNI mostra que o medo do desemprego está em níveis recordes de baixa desde 1996, em 82, na comparação com os 87,2 do seu segundo melhor momento nesse período histórico, no início de 2008. Além disso, o economista projeta crescimento de 6,68% na massa de rendimentos, em relação aos 3,99% de 2009. "Por isso eu acredito que o crédito para pessoa física continuará crescendo no Brasil, apesar das taxas básicas de juros Selic estarem em alta." Ele estima crescimento de 23,7% para 2010 no crédito total neste ano e de 22,2% no crédito para pessoa física com recursos livres. Segundo ele, algumas modalidades de crédito para pessoa física são insensíveis à alta da Selic, como o crédito imobiliário ou consignado. "No total, 37% do crédito no Brasil não se altera se a Selic sobe", argumenta ele. Isso reduz a eficácia da política monetária. No crédito imobiliário e consignado, a inadimplência também tende a ser menor, diz. Para ele, o "dinamismo da economia segue sustentado pela robustez da demanda doméstica, com destaque para o emprego e a renda, o consumo das famílias e os investimentos". Por isso, o Bradesco reviu para cima suas projeções para o crescimento PIB (Produto Interno Bruto) para 7% neste ano (6,4% de antes). Ele estima que a Selic será elevada para 11,5% nas próximas duas reuniões do Copom e para 13% nos meses iniciais de 2011. "É preciso considerar que, diferentemente de outros episódios de elevação dos juros, o investimento será menos afetado." A demanda vai continuar crescendo por causa das mudanças estruturais e a política monetária é mais eficaz, por causa de sua credibilidade, atingindo os mesmos objetivos do passado com um custo menor. Além disso, parcela substancial do investimento vem sendo financiada a juros subsidiados pelo BNDES.