Título: Aliança deve dar a Alckmin metade do tempo de TV
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 07/05/2010, Política, p. A8

O PSDB lança amanhã a pré-candidatura de Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo com uma ampla aliança reunindo DEM, PMDB, PPS, PSC e PHS, que deverá render aos tucanos a metade do tempo de televisão no horário eleitoral gratuito. Alckmin inicia a disputa buscando reverter a desunião que marcou suas duas últimas campanhas, à Presidência e à Prefeitura de São Paulo, nas quais não teve apoio unânime nem mesmo dentro do PSDB. O lançamento deve ser feito com a presença do pré-candidato tucano à Presidência, José Serra, e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

O ex-governador Alckmin terá em sua chapa os serristas Guilherme Afif Domingos (DEM) como vice, e Aloysio Nunes Ferreira, candidato ao Senado. Na outra vaga para senador concorrerá Orestes Quércia (PMDB). O PTB apoiará o PSDB, mas não entrará na aliança, para apoiar Romeu Tuma à reeleição no Senado.

As indicações de Quércia e de Afif fazem parte de um acordo alinhavado por Serra com o PMDB e o DEM em 2008, para apoiar a reeleição do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), e construir a plataforma de sua candidatura presidencial.

A campanha de Alckmin estará cercada de homens da confiança de Serra. O coordenador será o ex-secretário de Gestão Pública do governo Serra, Sidney Beraldo, que deve ainda ocupar a suplência de Nunes Ferreira na corrida pelo Senado. O marqueteiro dos tucanos nas disputas pelo governo do Estado e pela Presidência será o mesmo, Luiz González, preferido de Serra e que trabalhou para Kassab, vencedor da disputa pela capital paulista em 2008.

Serra precisa de uma votação expressiva em São Paulo, para compensar no Estado a votação que sua principal adversária na disputa presidencial, Dilma Rousseff (PT), deverá ter no Nordeste. Para isso, precisa de uma candidatura forte para concorrer com o candidato estadual do PT, senador Aloizio Mercadante. Tucanos calculam abrir uma diferença de 4 milhões a 6 milhões de votos no Estado.

A candidatura ao governo do Estado representa uma tentativa de renascimento político de Alckmin, após derrotas nas duas últimas eleições. Em 2006, quando disputou a Presidência, saiu das urnas menor do que entrou na campanha, com menos votos no segundo turno do que no primeiro. No país foram menos 2,4 milhões de votos no segundo turno. Em São Paulo, onde havia deixado o cargo de governador depois de seis anos à frente do governo, também perdeu: foram menos 230 mil votos. Naquela eleição ficaram evidentes os conflitos com o grupo tucano próximo a Serra, que vislumbrava concorrer. Em 2008, quando tentou a Prefeitura de São Paulo, começou a campanha liderando as pesquisas e acabou em terceiro lugar, desgastou-se com o DEM do prefeito Gilberto Kassab e viu boa parte de seus colegas de partido migrar para a candidatura demista, ainda no primeiro turno. Na campanha, classificou Kassab de "dissimulado" e disse que o prefeito usava a máquina para cooptar apoio. A reaproximação de Alckmin com o DEM e com setores do PSDB foi articulada por Serra.

No início de 2009, a um ano de Serra lançar-se à Presidência, ele chamou Alckmin para ocupar a Secretaria de Desenvolvimento, pasta responsável por escolas e faculdades técnicas. Na função, o pré-candidato a governador visitou centenas de municípios, assinou convênios e inaugurou escolas, ganhando visibilidade. Nesse último ano e meio de andanças, Alckmin azeitou a relação com prefeitos, que já era boa. O PSDB, junto com os aliados, domina mais da metade das prefeituras de São Paulo.

O convite de Serra foi uma forma de tentar unir novamente o partido, em um momento em que muito se falava da insatisfação de Alckmin, que poderia culminar em sua saída da legenda.

A primeira missão de Alckmin na viabilização de sua candidatura foi convencer o partido a escolhê-lo em detrimento de Aloysio Nunes Ferreira, chefe da Casa Civil da gestão Serra e preferido da cúpula partidária. Com índices acima de 50% nas intenções de votos ao governo do Estado, Alckmin foi escolhido, mas ficou encarregado de resolver, por consequência, outra querela partidária: o deputado tucano José Aníbal e o ex-secretário Nunes Ferreira queriam uma vaga para disputar o Senado. O grupo defensor de Nunes Ferreira entendia que, como este abriu mão da candidatura ao governo estadual, deveria ser naturalmente alçado à disputa pelo Senado. Caberia a Alckmin a tarefa de convencer Aníbal, seu aliado, a desistir.

Segundo Aníbal, sua desistência ao Senado se deu apenas 1h30 minutos antes da reunião do Diretório Estadual, após várias conversas com Alckmin. A indefinição do nome escolhido à disputa pelo Senado vinha causando vários desentendimentos no tucanato, inclusive adiando a data de lançamento da campanha de Alckmin ao governo, inicialmente marcada para 29 de abril. A Aníbal foi oferecida a elaboração do programa de governo estadual, possibilidade que o deputado está avaliando.