Título: Irã diz aceitar mediação brasileira em impasse sobre urânio
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Fonte: Valor Econômico, 06/05/2010, Internacional, p. A13
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse que poderá aceitar uma mediação do Brasil para que seu país receba combustível nuclear em troca de urânio levemente enriquecido. A troca fora proposta em outubro por países europeus mas acabou engavetada por que as partes não chegaram a um acordo sobre onde e em quais condições a operação seria feita.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem viagem programada para o Irã no dia 15.
Ahmadinejad disse ter concordado "em princípio" com a proposta, acrescentando que ainda são necessárias mais discussões técnicas, segundo veiculou ontem o site da Presidência iraniana. Segundo Teerã, o presidente iraniano discutiu o plano brasileiro com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, numa conversa telefônica na noite de terça-feira.
Na semana passada o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que o Brasil poderia ser o local da troca.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não comentou diretamente a notícia, mas, segundo a agência de notícias Bloomberg, disse que se o Brasil "puder fazer uma contribuição, certamente fará" e que o país tem "autoridade moral e política para mediar um acordo porque nossa Constituição nos proíbe de fabricar armas nucleares".
Pela oferta feita em outubro, europeus receberiam urânio levemente enriquecido do Irã e em troca forneceria ao país urânio enriquecido num grau mais elevado num formato que só pode ser usado num reator para fins médicos, que está ficando sem combustível.
"Defendemos o direito de produção de energia de remédios. Portanto, o que nós queremos para o Irã é o que queremos para nós e para o mundo, na expectativa de que os países que já têm bombas nucleares comecem desativando [seus arsenais]", afirmou ele.
O Irã está sob crescente pressão para que interrompa seu programa nuclear. EUA, países europeus e Israel dizem que o objetivo do Irã é desenvolver armamento nuclear, alegação negada pelo governo Ahmadinejad, que diz que o propósito é exclusivamente civil.
Para Anne Penketh, diretora do Conselho de Informação e Segurança Britânico-Americano, Teerã está agindo para arrastar negociações. "O fato de aceitar negociar com o Brasil poder ser outro jogo do Irã para ganhar tempo. Isso é esperado, já que o Brasil e a Turquia têm trabalhado para tentar evitar sanções adicionais contra o Irã". Os EUA lideram a campanha para que a ONU aprove novas sanções.