Título: Oferta de dinheiro cai e empurra juro
Autor: Bittencourt , Angela
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2010, Finanças, p. C1

Um forte aperto monetário está em curso, com o ciclo de alta da Selic, iniciado na semana passada, potencializado por oferta menor de dinheiro na praça. Os juros não devem sofrer um súbito ajuste, mas o sinal de rebalanceamento da liquidez já foi disparado no mercado aberto com a queda na concentração de moeda no curto prazo.

As operações compromissadas do Banco Central, representadas pela venda de títulos federais com compromisso de recompra futura, fecharam o mês de abril em R$ 333 bilhões, no menor nível desde dezembro de 2008.

Essa marca foi alcançada com a reversão dos recolhimentos compulsórios sobre depósitos bancários. Anunciada no final de fevereiro, a medida forçou a redução das compromissadas em cerca de R$ 140 bilhões.

A migração de moeda dos caixas dos bancos para o BC tem sido patrocinada pela necessidade de cumprimento das regras dos recolhimentos compulsórios em moeda corrente. Com menos recursos no caixa, os bancos emprestam menos. A oferta de crédito diminui, o que diminui a demanda e as pressões sobre os preços.

Ontem, o BC recolheu R$ 79 bilhões do mercado aberto que retornarão hoje aos detentores originais. A operação garantiu o equilíbrio do juro de curtíssimo prazo que deve rondar a meta da taxa Selic, de 9,50% ao ano.

Para junho está contratado o retorno de R$ 184 bilhões. Desse total, R$ 170 bilhões retornarão às instituições na sequência da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve anunciar nova alta do juro básico no dia 9.

A menor concentração de recursos em operações de curto prazo tende a diminuir distorções dos mercados que receberam, ao longo do tempo, uma enxurrada de moeda impulsionada basicamente por quatro fatores: resgate líquido de títulos públicos federais, resgate de cotas de fundos de investimentos, compra de dólares pelo BC para acumulação de reservas internacionais e liberação dos recolhimentos compulsórios na sequência da crise financeira internacional.

O resgate nos fundos de investimentos, com efeito sobre as colocações de títulos pelo Tesouro, e a liberação de compulsórios são vistos como conseqüência da crise. Investidores optaram por manter seu dinheiro por perto e o BC agiu, via compulsórios, para prover liquidez em reais, evitando um colapso no crédito.

A acumulação de reservas não tem caráter de intervenção pontual. É uma política de médio e longo prazo. É fato, porém, que as reservas, rumo aos US$ 250 bilhões, tornaram-se um escudo contra crises internacionais. As reservas vêm crescendo há tempo e com impacto sobre a oferta de reais na economia, embora o BC não venha atuando agressivamente nas compras.

O balanço cambial divulgado ontem indicou, por exemplo, aumento discreto das compras médias diárias de dólares pelo BC de março para abril. Em março, a instituição comprou cerca de US$ 125 milhões ao dia. Em abril, US$ 151 milhões, frustrando a expectativa de operadores que esperavam a confirmação de pesadas compras de divisa pela instituição no final do mês passado.