Título: Banco tem que se entrosar com Fazenda
Autor: Safatle, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2010, Política, p. A6

de Goiânia Num eventual governo José Serra (PSDB), o Banco Central terá de funcionar "integrado" com a política econômica e "entrosado" com os ministérios da Fazenda e do Planejamento para não ficar "um atirando para um lado e outro atirando para outro". A explicação foi dada por Serra, no dia seguinte ao da entrevista à rádio CBN em que fez críticas ao BC e disse que a instituição não é a Santa Sé, intocável. O pré-candidato a presidente pelo PSDB que passou ontem o dia em atividades de pré-campanha em Goiânia (GO) não parecia o Serra irritado da véspera, quando chegou a ter uma discussão com a jornalista Míriam Leitão, responsável pela pergunta sobre a autonomia do BC na rádio. O tucano retomou a aparência serena e bem humorada que vinha marcando essa fase de campanha - até o episódio na CBN, que ele atribuiu ao fato de ter acordado cedo (a entrevista foi às 8h). Durante toda a passagem por Goiânia e uma cidade vizinha, Aparecida, Serra reafirmou sua posição em relação ao BC, mas usando tom mais ameno. "Não sei por que causou polêmica (a entrevista). Sempre digo o mesmo. Acho que o BC tem que ter liberdade e autonomia para trabalhar e uma integração com a política econômica do governo, com o Ministério da Fazenda, do Planejamento e com o próprio presidente, que escolhe os diretores do BC", disse o tucano em entrevista a uma emissora de televisão local, lembrando ter sido assim no governo Fernando Henrique Cardoso, como é no governo Lula. "O BC tem que estar voltado, da mesma maneira que todas as instituições da área econômica, para não ter inflação, para o controle de preços, e para o desenvolvimento. Para isso, é fundamental ter entrosamento, coisa que vou fazer na minha equipe de governo. É tudo entrosado, não tem um atirando para um lado e um atirando para outro", afirmou. Fez questão de dizer que não iria tratar do atual comando do BC, para não causar "uma ventania sem muita razão". Segundo ele, a posição que tem manifestado refere-se ao que pretende fazer, caso seja eleito. "Estou dizendo o que vai acontecer comigo. Comigo vai ser desse jeito, até por que eu tenho conhecimento, experiência em matéria de assuntos ecônomicos." A entrevista dada por Serra na véspera preocupou seus aliados, que viram no seu comportamento "ranzinza" um escorregão do pré-candidato, que vinha mantendo uma campanha praticamente sem erros. Além da forma com que ele se apresentou na rádio, as declarações sobre o Banco Central, embora reflitam pensamento já manifestado por Serra, foram consideradas desnecessárias, porque podem reforçar a reserva com que o tucano é visto pelo setor financeiro. Serra deu entrevistas a três emissoras de televisão - um programa popular da TV Serra Dourada, repetidora do SBT, as Organizações Jaime Câmara, afiliadas da TV Globo e maior grupo de comunicação do Centro-Oeste, e uma emissora evangélica (Fonte da Vida). Visitou uma agência Vapt-Vupt, serviço poupatempo criado pelo então governador Marconi Perillo, o pré-candidato do PSDB a governador que levou Serra no Estado. A agência fica dentro de um shopping center popular, no qual Serra circulou por cerca de uma hora, sempre assediado por políticos e eleitores, posando para fotos, jogando charme para as mulheres e conversando sobre futebol com jovens. A viagem a Goiânia foi encerrada com uma visita ao Centro de Reabilitação e Readaptação (CRER), onde o presidenciável conversou com médicos e pacientes. Em entrevistas, Serra defendeu a realização de obras de interesse do Estado e fez afagos no setor de agronegócios. "Goiás é um Estado cujo veículo de desenvolvimento não tem retrovisor. É uma das vanguardas nossas em matéria de agropecuária, que tem sido a galinha dos ovos de ouro do desenvolvimento brasileiro. Estado que progride sempre, dá inveja para os outros."