Título: Bolívar despenca e Chávez faz repressão financeira
Autor: Uchoa, Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2010, Internacional, p. A11

de São Paulo O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, lançou uma ofensiva de "repressão financeira" para tentar controlar o mercado paralelo de dólar. O governo mandou à Assembleia Nacional uma lei criminalizando a especulação com a moeda americana e apertando as regras de swap (transação de títulos denominados em dólar). Chávez acusa os empresários do país de serem especuladores e, com isso, de estarem provocando uma escalada na inflação. As medidas provocaram uma corrida ontem ao mercado paralelo, o que fez com que a moeda venezuelana, o bolívar forte, atingisse seu recorde de baixa: 8,2 bolívares fortes por dólar. Segundo analistas consultados pelo Valor, há uma escassez "crônica" de dólares no mercado, o que força as empresas que dependem de importação a procurar o mercado paralelo. As autoridades reconhecem que há escassez de dólares. O Banco Central da Venezuela afirmou que, além do alto componente especulativo do mercado, o baixo fluxo de moeda estrangeira tem influenciado a procura pelo dólar paralelo. E o próprio Chávez admitiu que muito dos dólares que entram no país vem sendo usado para pagar dívidas atrasadas de 2009. Mesmo assim, o presidente afirma que o problema maior é a especulação e mandou à Assembleia Nacional um projeto de lei de crimes cambiais. O presidente da Comissão de Finanças da Assembleia, Ricardo Sanguino, disse que o aperto das regras permitirá uma correção "nas transações que distorcem a estabilidade do câmbio" e que seguirá em "regime de urgência". Entre as medidas podem figurar até a proibição de swap e a maior intervenção do governo nas casas de câmbio. Em janeiro, o país adotou um sistema de dois câmbios oficiais: uma taxa para setores prioritários, como saúde e alimentação, a 2,6 bolívares fortes por dólar, e outra chamada de "dólar petroleiro", a 4,3 bolívares fortes, para setores como o automotivo, de comércio e de telecomunicações. A taxa de câmbio única que estava em vigor até então havia sido fixada em 2005 a 2,15 bolívares e servia para tudo. Chávez definiu que saúde, alimentos, máquinas, livros, artigos tecnológicos e todas as importações do setor público, além das remessas para o exterior, estão sujeitos ao câmbio de 2,6 bolívares por dólar. Já artigos como automóveis, telecomunicações, fumo, bebidas, produtos químicos, petroquímicos e eletrônicos passaram a ter uma taxa de câmbio de 4,30 bolívares fortes por dólar. Há um consenso no mercado financeiro do país de que a iniciativa fracassou em seu intento de esvaziar o mercado paralelo. No fim de semana o presidente venezuelano culpou os empresários pela alta dos preços no país e disse que eles estariam conspirando contra as medidas anti-inflacionárias de seu governo. "A burguesia está envolvida", disse. Em abril, o índice de preços ao consumidor chegou a 5,2%, levando a taxa de inflação anual a 30,4%, a maior da América Latina. A economia da Venezuela registrou uma contração de 3,3% no ano passado e deve se retrair de novo em 2010, segundo uma previsão feita pelo próprio presidente Chávez no mês passado. Já as reservas internacionais caíram 22% neste ano, em parte devido aos repasses para um fundo de desenvolvimento criado por Chávez.