Título: Déficit público do país é o menor do G-20, diz Mantega
Autor: Otoni , Luciana
Fonte: Valor Econômico, 13/05/2010, Brasil, p. A3

Cerca de US$ 2 bilhões em investimentos deixaram o país nos últimos dias, durante o período mais agudo da crise grega. A informação sobre a migração de capitais foi dada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que, apesar da perda de divisas, avaliou que a economia brasileira está "vacinada" contra turbulências internacionais e possui solidez para crescer e melhorar os indicadores fiscais, mesmo em um ambiente econômico internacional adverso.

Em apresentação durante encontro realizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) ontem, em Brasília, o ministro informou que o país deverá chegar ao fim deste ano com déficit nas contas públicas de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB). "Será o melhor resultado do G-20. Quem diria que o governo do presidente Lula poderia gerar melhor desempenho fiscal que os governos anteriores", afirmou.

O ministro da Fazenda apresentou uma nova roupagem do discurso oficial. Ao contestar as avaliações que apontam o governo Lula como uma continuação do governo Fernando Henrique, em função da permanência do tripé de política macroeconômica (meta de inflação, câmbio flutuante e superávit primário), ele classificou a gestão petista como "a nova política econômica".

"É incorreto dizer que demos continuidade à política econômica anterior, porque, neste governo, passamos a privilegiar o crescimento e o Estado revigorado e passamos a estimular uma expansão maior", explicou. Como exemplos da "nova política econômica", o ministro citou a política de valorização do salário mínimo, o estímulo à construção civil e a redução de tributos para as médias e pequenas empresas.

Mantega abordou o ritmo de expansão do PIB, dizendo acreditar que este ano a alta será de 5,5%. Ele mencionou que o mercado já projeta aumento de 6,26% (relatório Focus do Banco Central ). "Depois da crise econômica, iniciamos um novo ciclo de crescimento. Para este ano, a previsão é de 5,5% e já tem gente falando em 6,5% e 7%. Acho um pouco exagerado", avaliou.

Mantega também tentou explicar os motivos da forte elevação da inflação neste ano, que no acumulado de janeiro a abril soma 2,65%, ante 1,72% verificado em igual período de 2009. O determinante, ressaltou, foi a inflação dos alimentos, seguida dos preços maiores para combustíveis e tarifas de ônibus. Para o ministro, a tendência é que os preços dos alimentos caiam nos próximos meses.

O ministro afirmou, por outro lado, que, com o aquecimento da economia, alguns setores enfrentam a dificuldade de escassez de mão de obra. "Está faltando pedreiro, azulejista e mestre de obras, mas isso é um ótimo problema. É melhor faltar mão de obra do que não gerar emprego". Ainda para este ano, ele estima aumento de investimentos entre 18% e 20%.

Mantega disse também que os Estados estão investindo forte este ano, graças à liberação de limites de endividamento concedida pelo governo federal. Segundo ele, os governadores ganharam uma folga de cerca de R$ 40 bilhões para a contratação de novos financiamentos, em especial em organismos multilaterais. A liberação refere-se à capacidade de endividamento dos Estados que renegociaram dívidas com o governo federal em 1997. (Colaborou Azelma Rodrigues, de Brasília)