Título: Dilma defende retaliação contra Argentina
Autor: Bittencourt, Angela
Fonte: Valor Econômico, 13/05/2010, Política, p. A5

Num dia dedicado a entrevistas a emissoras de rádio e televisão em Porto Alegre, a pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, defendeu ontem a imposição de retaliações comerciais contra a Argentina, que anunciou a proibição, a partir de primeiro de junho, da importação de alimentos brasileiros que tenham similares produzidos no país vizinho. Para ela, a decisão do governo argentino foi "agressiva" e sequer foi comunicada formalmente ao Brasil.

"Se existe - e existe - pela Organização Mundial de Comércio e pelo Mercosul a possibilidade de retaliar uma medida tão agressiva como esta que foi tomada contra o Brasil, ela tem de ser respondida", afirmou Dilma. Segundo a ex-ministra da Casa Civil, o Brasil deve ter neste caso a mesma "posição firme" que adotou na disputa na OMC contra os subsídios à produção de algodão nos Estados Unidos.

A pré-candidata falou a emissoras da RBS, afiliada da rede Globo, ao grupo Record, e reuniu-se com as direções das duas empresas. Na RBS, defendeu a política de alianças do governo Luiz Inácio Lula da Silva como uma questão de "governabilidade e responsabilidade política perante a nação" e afirmou que não se sente constrangida em ter o apoio de figuras antes criticadas pelo PT, como o senador José Sarney (PMDB-AC). Segundo ela, as coalizões são feitas em torno dos programas do partido, especialmente o "crescimento com distribuição de renda".

Dilma também defendeu o "multilateralismo" adotado pelo governo Lula nas relações comerciais internacionais e a política de "reduzir os conflitos" e atuar como elemento de "estabilização" em situações críticas, inclusive na questão do desarmamento nuclear do Irã. Ela ainda reafirmou sua posição contrária às invasões de terras e prédios públicos como instrumento de pressão pela reforma agrária e defendeu a regionalização dos índices de produtividade das propriedades rurais para fins de definição das áreas desapropriadas.

A ex-ministra evitou assumir posições definitivas em questões sobre o aborto, a extradição do italiano Cesare Battisti e o reajuste de 7,7% para os aposentados que ganham mais de um salário mínimo, aprovado pela Câmara dos Deputados. Para ela, o aborto é uma "violência contra a mulher", mas trata-se de uma questão de "saúde pública", regida por lei, nos casos de estupro e risco de vida. Ela disse ainda que não tinha como avaliar o impacto do aumento dos aposentados e do fim do fator previdenciário nem dispunha de detalhes para opinar sobre qual deveria ser a decisão do presidente Lula em relação à extradição de Battisti, condenado por terrorismo na Itália.