Título: Por enquanto,só uma carta de boas intenções
Autor: Parz, Tiago; Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 06/07/2010, Política, p. 2

Propostas apresentadas pelos principais candidatos à Presidência não passam de esboços

Depois de um ¿lapso¿, em que advogados da campanha petista registraram o documento errado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a nova proposta de governo da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, exclui pontos polêmicos que a associavam aos movimentos sociais e à ala mais radical do partido. Com 24 páginas, o programa substitui termos como trabalhadores sem-terra por assentados, ignora a defesa da jornada de 40 horas e minimiza a implementação da Consolidação das Leis Sociais, elaborada pelo governo Lula. Todos esses itens estavam previstos no texto anterior. O documento ainda inclui o apoio da candidata à política do agronegócio ao mesmo tempo em que exclui a expressão ¿reforma agrária¿ de algumas propostas. Em outra frente, retira da lista de prioridades a revogação de uma medida provisória editada no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). O texto dos tempos de FHC excluía da lista de assentados quem participasse de invasões de terra.

O documento apresentado inicialmente por Dilma foi aprovado no 4º Congresso do PT e seria debatido com partidos coligados que apoiam a ex-ministra.

Substituído no fim do dia, o programa, segundo a assessoria da candidata, ainda é provisório e não reúne todas as propostas, inclusive aquelas sugeridas pelo PMDB, maior partido da aliança.

A nova legislação eleitoral obriga que candidatos, no ato do registro, apresentem diretrizes do programa de governo. A mudança não foi seguida à risca pelos presidenciáveis, já que não há um modelo e nem exigências específicas.

Apenas Marina Silva (PV) preparou informações mais consistentes sobre as propostas, como meio ambiente e educação. No documento, a verde destaca a ideia de criar programas sociais da terceira geração, que ofereçam oportunidades para os beneficiários e não fiquem concentrados na distribuição de renda.

O tucano José Serra apresentou apenas os discursos feitos na préconvenção, em abril, em Brasília, e na Convenção Nacional do partido, em Salvador, que já estavam disponíveis na internet. Entre as promessas, a criação de um ministério para a segurança pública e outro para pessoas com deficiência. A proposta de Dilma, apresentada na pré-campanha, de criar o ministério do empreendedorismo, não aparece no documento registrado pelo PT no tribunal.

Carta Serra assina hoje uma carta social para reafirmar o compromisso da campanha tucana com projetos e princípios sociais. A principal intenção é afastar as afirmações de que, se eleito, Serra acabaria com o programa Bolsa Família. O texto foi elaborado por secretários estaduais e municipais de assistência social de partidos aliados à chapa tucana. O documento propõe um ¿recorte temporal que localize o nascedouro dos programas, projetos e serviços socioassistenciais do Sistema Único de Assistência Social de nosso país¿. Os secretários reafirmam que programas como o de erradicação do trabalho infantil, os Centros de Referência de Assistência Social e até o Bolsa Família têm semente plantada durante o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso.

A estratégia do ex-governador de São Paulo é muito semelhante à utilizada pelo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Na primeira eleição em que conseguiu alcançar a Presidência, Lula editou uma carta aos brasileiros para tentar contornar o temor do mercado financeiro quanto a um possível governo petista. No texto, o então candidato afirmava que uma transição para o que a sociedade brasileira reivindicava deveria ser lenta e compartilhada, sem decisões unilaterais. Lula ainda afirmou que manteria os acordos financeiros internacionais assinados pelo país: ¿Premissa dessa transição será naturalmente o respeito aos contratos e obrigações do país. As recentes turbulências do mercado financeiro devem ser compreendidas nesse contexto de fragilidade do atual modelo e de clamor popular pela sua superação¿, escreveu Lula. Dutra e o piriPAC A equipe médica que atendeu o presidente nacional do PT recomendou que José Eduardo Dutra passasse a noite em observação no Hospital do Coração do Brasil, em Brasília, para que o dirigente se recuperasse de crise de hipertensão sofrida durante reunião do partido. Na manhã de ontem, Dutra participava de encontro para discutir alianças. ¿Ele reclamou de dor acima do peito, perto da garganta. Humberto Costa (ex-ministro da Saúde), que é médico, olhou o pulso e chamamos o Samu. A pressão estava 18 por 13¿, relata o líder do PT na Câmara, Fernando Ferro (PE). Enquanto recebia atendimento, aproveitou para acalmar os correligionários pelo Twitter. ¿Calma pessoal! Foi só um piriPAC. Já tô bem¿, escreveu, fazendo trocadilho com o programa federal.