Título: Discurso pronto para agradar a empresários
Autor: Parz, Tiago; Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 06/07/2010, Política, p. 2

Dilma defende a reforma tributária, critica invasões de terras e promete melhorias em infraestrutura

As palavras da candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, soaram como música aos ouvidos dos 486 empresários reunidos ontem, em São Paulo, em um encontro organizado pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide). Em pouco mais de uma hora, Dilma defendeu a reforma tributária em curto prazo, falou em avanços na infraestrutura, criticou a invasão de terras por grupos organizados como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pregou melhorias na educação.

Às vésperas de dar o pontapé inicial em uma campanha que custará R$ 157 milhões, conforme registrado por sua coligação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Dilma falou para uma plateia seleta. O Lide é formado por empresas que têm faturamento mínimo de R$ 200 milhões e respondem a 44% do Produto Interno Bruto (PIB) privado nacional.

Com discurso apaziguador, Dilma garantiu sua intenção de dar continuidade ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um dos mais bem avaliados na história recente do país.

¿Estamos em clima de estabilidade econômica e de estabilidade social. E isso não vai mudar.¿ A candidata criticou ainda o sistema tributário brasileiro, o qual qualificou como ¿caótico¿ devido à sobreposição de impostos, o chamado efeito cascata.

Ela prometeu uma reforma tributária com a desoneração total da taxação sobre investimentos e da folha de pagamentos, por meio da mudança dos índices da Previdência Social.

Defendeu ainda uma base unificada do ICMS nos Estados, medida que fez parte de todas as tentativas malsucedidas de reforma tributária.

A candidata evitou, porém, abordar o imposto sobre grandes fortunas. A cobrança está contemplada no programa de governo protocolado ontem no TSE e é tida como uma das reivindicações da ala mais esquerdista do PT. Apesar de prevista na Constituição, a tributação nunca chegou a ser regulamentada. No mês passado, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou projeto que cria o imposto.

Em entrevista recente a um programa de TV, Dilma alegou que essa não era uma das prioridades do seu governo.

Sem terra Questionada por empresários sobre os conflitos de terra no campo, que têm como principal protagonista o MST, a ex-ministra da Casa Civil fez questão de descolar a imagem do movimento à do governo federal. ¿Não podemos compactuar com a ilegalidade.

Movimento é movimento, governo é governo.¿ A afirmação de que o governo Lula teria promovido a paz no campo e não teria ¿deixado a coisa solta¿ provocou reações na plateia, que acompanhava a candidata com atenção.

Outra bandeira empunhada por Dilma foi a da educação. A petista voltou a pregar a necessidade de melhores condições de aprendizado, formação continuada para os professores e transformação das universidades em centros de excelência. Uma pesquisa feita pela organização do evento revelou que a educação é a prioridade nas melhorias para os empresários presentes, nas eleições 2010. Na avaliação dos entrevistados, o principal fator que impede o crescimento de suas empresas é o fator tributário, com 85% das respostas. Eles apontaram ainda a reforma fiscal como uma das mais importantes para o setor. Temer na campanha PT e PMDB querem colocar o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), vice de Dilma Rousseff na corrida pelo Palácio do Planalto para cumprir agenda independente da candidata.

A campanha está de olho em aumentar o volume de corpo a corpo, entrevistas e contatos com políticos locais aproveitando o peso do partido do deputado nos municípios e nos rincões do país.

A proposta foi levantada pelo PMDB por entender que colocar Dilma e Temer em lugares diferentes ao mesmo tempo lhes daria uma vantagem que a candidatura de José Serra (PSDB) não tem. Na avaliação dos peemedebistas, com o deputado Índio da Costa (DEM-RJ) desconhecido para a grande massa do eleitorado, o tucano não teria como largá-lo sozinho na campanha. Serra, na avaliação desses estrategistas, terá de andar ao lado do parlamentar do DEM no Rio de Janeiro se quiser tornar o vice mais conhecido.

O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), disse que, ao pensar uma agenda diferenciada para Temer, a campanha chega aos municípios onde a legenda é forte como uma atração. ¿É o maior partido do Brasil. O Michel chega como uma atração importante para trabalho de mídia e reuniões locais¿, afirmou o deputado.

A partir desta semana, Michel Temer passa a integrar a coordenação da campanha e discutirá sua participação com o presidente do PT, José Eduardo Dutra, e com Dilma. ¿Com ele na coordenação, poderemos discutir melhor.

O importante é dar capilaridade à campanha. Quanto mais gente espalhada pelo país, melhor¿, disse Dutra.

Por essa lógica, Dilma e Temer se dedicariam a visitas conjuntas em estados considerados chaves, como São Paulo. O presidente da Câmara já tem se dedicado à campanha em seu estado de origem fazendo reuniões com prefeitos correligionários numa tentativa de esvaziar o apoio a Serra. Em São Paulo, o PMDB, comandado pelo ex-governador Orestes Quércia, está na coligação de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo.

Influência Temer, no entanto, busca minimizar a influência e conquistar apoio para Dilma. Esse mesmo trabalho tem sido feito em Santa Catarina onde o PMDB coligou-se com o candidato do DEM, Raimundo Colombo. Mas o deputado paulista usa sua influência como dirigente para arregimentar apoio à sua campanha sobretudo de prefeitos.

Nas candidaturas nacionais, os administradores municipais são utilizados como multiplicadores de votos usando sua base de apoiadores como ponto de partida.

Os petistas não querem que Temer se limite a fazer campanha em sua área de influência, seja no partido ou em seu curral eleitoral.

¿O Michel é vice e representa a candidatura. Não é mais só do PMDB, ele passa a ser candidato de todos nós¿, disse o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Há uma movimentação do PMDB que deseja que, como vice, o presidente da Câmara trabalhe para aumentar o voto de legenda, mirando uma bancada de deputados maior. O PT teme que, se ele se limitar a esse papel comprometa a estratégia de todo esforço pela campanha nacional de Dilma Rousseff.