Título: Crescimento baixo eleva temor por dívida da Itália
Autor: Meichtry, Stacy
Fonte: Valor Econômico, 14/05/2010, Internacional, p. A10

The Wall Street Journal, de Roma

O fundo europeu de socorro, de quase US$ 1 trilhão, diminuiu a pressão sobre os países da periferia da zona do euro, mas um problema econômico mais profundo torna mais difícil para esses países escapar de suas dívidas gigantescas: a falta de crescimento econômico. O problema é uma preocupação em particular para a Itália, o país com a maior dívida da Europa. O plano de socorro da União Europeia, de 750 bilhões, que surgiu no vácuo do pacote de 110 bilhões de euros para socorrer a Grécia, tomou forma no fim de semana passado, em meio aos crescentes temores de que a crise fiscal em Atenas pudesse alimentar outros receios relacionados à dívida de economias mais fracas da zona do euro, como Portugal e Espanha. Até agora, os mercados consideraram a Itália menos arriscada que outros países do sul da Europa, apesar de uma dívida pública de 115% do PIB - quase a mesma proporção da Grécia. A Itália tinha ontem de pagar quase um ponto porcentual a mais que a Alemanha para captar, spread parecido com o da Espanha, mas inferior ao da Grécia, que está em 4,65 pontos percentuais. Mas o que está em jogo numa potencial crise da dívida italiana é muito mais. A dívida italiana é de 1,7 trilhão, aproximadamente sete vezes o valor da grega. A Itália "é uma peça grande do sistema", disse François Chaucat, economista da GaveKal, uma consultoria econômica de Estocolmo. "Se a Itália não conseguir refinanciar sua dívida, aí é o fim do euro." Em termos de seu orçamento anual, a Itália está relativamente sadia, com um déficit equivalente a 5,3% do PIB em 2009 - a média europeia é de 6,3%, mas na Grécia chegou a 13,6%. A Itália é "um exemplo de saúde" quando comparada às outras economias dos países do Mediterrâneo, afirmou Ben May, economista da consultoria londrina Capital Economics. Mas a dívida pública do país é mais difícil de ser reduzida e deve pesar na economia no longo prazo. A receita tributária está estagnada devido ao crescimento lento da Itália, já que as indústrias estão abandonando o norte do país em busca dos custos trabalhistas menores da China e dos países do Leste Europeu. Na última década, o PIB italiano cresceu a uma parca média anual de 0,54%, e o Tesouro do país calcula que crescerá apenas 1% em 2010, após encolher 5,1% ano passado. As tentativas de melhorar a receita com aumentos de impostos têm sido minadas pelo alto índice de evasão fiscal no país. Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi enfrenta pressão de sua coalizão de governo para manter a ajuda governamental à empobrecida região sul da Itália, altamente dependente dos empregos públicos. Em consequência, a Itália está se endividando mais: este ano, a dívida pública deve aumentar três pontos percentuais, para 118% do PIB. O problema surgirá quando o crescimento na receita tributária não acompanhar o custo do serviço da dívida. "Se o juro que você está pagando na dívida é maior que o crescimento da economia, você fica preso numa armadilha mortal em que sua dívida só aumenta", diz Gabriel Stein, economista da Lombard Street, uma consultoria econômica londrina. "Não sei se a Itália se encontra numa armadilha dessas no momento." As preocupações com a dívida italiana deixaram os investidores nervosos. Um leilão de 9,5 bilhões em títulos em abril atraiu uma demanda total de 9,78 bilhões - em vez de terem o interesse muito superior à oferta que caracterizou os leilões anteriores. A escassez de interessados pode forçar o Tesouro italiano a baixar o valor mínimo de seus títulos, o que significaria que a Itália teria de pagar juros maiores. Mas a demanda se recuperou recentemente. Um leilão de 5 bilhões em títulos com vencimento entre 5 e 15 anos atraiu interesse mais de 1,3 vez maior que a oferta, no caso dos títulos de 5 anos, e 1,7 vez a oferta para os papéis de 15 anos. O governo italiano afirma que seu financiamento de dívida é ajudado pelo vigor das famílias e das empresas italianas. As famílias do país - que detêm cerca de um quarto dos títulos da Itália - tinham dívidas financeiras equivalentes a 53% do PIB em 2008, ante 60% na Grécia e 61% na Alemanha, segundo a Eurostat, a agência de estatísticas da UE. Esse fator também é ajudado pela taxa de poupança relativamente alta, de 15% da renda das famílias após os impostos em 2008, ante 17% na Alemanha e -1,4% na Grécia. Apesar da criação da moeda comum europeia - que permite aos italianos investir em títulos alemães ou franceses -, as famílias italianas ainda preferem comprar títulos soberanos locais, afirmou Marco Annunziata, economista do banco italiano UniCredit. Elas também são menos influenciadas pelas tendências do mercado, diz ele. "Se o mercado aumentar o juro dos títulos italianos, geralmente a reação dos italianos é que isso está acontecendo porque os mercados estão exagerando o risco." O euro também tem incentivado investidores estrangeiros, como os bancos franceses e alemães, a comprar títulos italianos nos últimos anos, porque eles propiciam um rendimento alto a um risco cambial baixo. Mas os estrangeiros só detêm metade dos títulos italianos, deixando a Itália menos exposta a pânicos de investidores como o que derrubou os títulos gregos.