Título: Referência em trânsito, Madri aposta nos ciclistas
Autor: Damiani, Marco
Fonte: Valor Econômico, 14/05/2010, Especial, p. F1

Com a apoio de cinco anéis viários contornando a área urbana, 300 quilômetros de metrô e uma ampla rede de trens e ônibus de subúrbio, Madri tornou-se referência europeia em soluções para o trânsito. Mas, depois de concluir uma série de obras calculadas em ¿ 12 bilhões, a cidade quer investir agora no que vem chamando de "infraestruturas mentais". O município faz campanha para que os madrilenhos deixem o carro em casa e usem mais o sistema de transportes públicos. Segundo a Fundación Movilidad, órgão da prefeitura responsável pela gestão do tráfego, metade dos deslocamentos feitos em automóvel são trajetos de até 5 quilômetros. "Mais do que obras, o que a cidade precisa fazer agora é convencer as pessoas a mudar de hábito. Muitas vezes, usa-se o carro sem necessidade", afirma Ignacio Ramos Soriano, diretor de comunicação da Fundación Movilidad. As medidas estudadas pelo município vão ao encontro de uma diretriz lançada pela União Europeia em 2007. Uma das iniciativas é o alargamento de calçadas e a valorização das vias de passeio, de forma a tornar a cidade mais amigável aos pedestres. Paralelamente, cobra-se pedágio para chegar de carro no centro, onde o preço dos estacionamentos é elevado - uma noite numa garagem pública pode custar ¿ 15. Outra aposta que vem sendo trabalhada pela prefeitura é a bicicleta como transporte público, modelo já adotado com êxito em outras cidades espanholas, como Barcelona, Zaragoza e Girona. Em março de 2011, Madri deve colocar nas ruas o Mybici, que prevê a instalação de centenas de estações de bicicletas pela cidade. Cada vez que quiserem usar essa forma de transporte, poderão ir até uma das estações, retirar uma bicicleta e devolvê-la na estação que quiserem. Para participar, terão de pagar uma anuidade de ¿ 24 mais o custo dos minutos em que permanecerem com o equipamento. Segundo Ramos Soriano, a ideia é que o valor final seja baixo, mesmo em comparação ao ônibus e o metrô. Ao mesmo tempo, Madri está ampliando sua rede de ciclovias, que hoje tem 264 quilômetros, para um total de 575 km, projeto de que deve ser concluído até 2016. Entre os três eixos escolhidos pelo governo para promover novas saídas para o trânsito está a construção da M-30, um anel subterrâneo que permite conectar o norte ao centro do município. A ideia era que essa via passasse ao redor da cidade, mas Madri expandiu-se em direção a ela. Somente nesse projeto foram investidos ¿ 3,1 bilhões. A M-30, que pertence à prefeitura, é um dos cinco cinturões viários que passam ao redor de Madri e evitam que os motoristas tenham de passar pelo centro. Esses outros anéis viários pertencem ao governo nacional, que chegou a estudar a construção de um sexto rodoanel, mas desistiu da ideia por considerar que a obra seria cara e não faria tanta diferença. Em vez disso, os governos nacional e local optaram pela construção de estradas radiais, que cortam esses cinco rodoanéis e permitem passar de um a outro sem entrar na cidade. Essa conexão entre os municípios é um dos pontos mais sensíveis para o tráfego local, já que há centenas de milhares de pessoas que trabalham na capital, mas vivem em outras cidades. Todos os dias, circulam pelas ruas de Madri 2,4 milhões de carros, dos quais 1 milhão corresponde a veículos que vêm de municípios vizinhos. De acordo com Ramos Soriano, da Fundación Movilidad, a prefeitura estuda os pontos críticos desse fluxo e tem colocado mais linhas de ônibus intermunicipal. Outra medida adotada foi a expansão da rede de metrô, que passou de 220 km para 300 km. Com isso, o metrô madrilenho, que transporta 800 mil pessoas por dia, subiu da sexta para a quarta posição na lista dos mais extensos do mundo. Agora, está atrás de Nova York, Tóquio e Moscou. Por último, o Ministério de Fomento do governo espanhol colocou em prática um projeto de ampliação da rede de trens suburbanos, que conectam Madri às cidades de seu entorno. A maior parte dessas obras já está concluída, mas o governo prevê novos investimentos como medidas de combate à crise. O presidente do governo espanhol, José Luis Rodriguez Zapatero, anunciou em abril o Plano Extraordinário de Infraestruturas, que prevê ¿ 17 bilhões em obras no setor de transporte, em regime de parceria público-privada. 70% dos investimentos irão para ampliação das redes de trens de subúrbios.