Título: Comissão suspende sabatinas de 12 novos embaixadores
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 19/03/2010, Política, p. A7
Por divergências com a política externa do governo, a Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado decidiu suspender quaisquer decisões sobre 12 novos embaixadores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As sabatinas dos indicados e votações serão interrompidas pelo menos até o dia 6 de abril, quando está marcada audiência do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, na comissão.
A CRE é presidida pelo senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), cujo partido anunciou rompimento com a política do Itamaraty. O anúncio foi feito pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), com um discurso na terça-feira, em plenário, no qual listou 17 "equívocos" da política externa brasileira, que, na sua opinião, tem sido "desastrosa, ruinosa para os interesses do país".
Para Virgílio, o apoio do Brasil ao egípcio Farouk Hosni para a direção da Unesco - derrotado pela búlgara Irina Bokova - foi um dos equívocos, agravado pelo fato de o governo brasileiro ter desprezado o diplomata brasileiro Márcio Barbosa. Ele também criticou a exposição "de maneira até pouco responsável" do nome da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie na disputa por uma vaga em Haia.
O terceiro "equívoco" apontado por Virgílio foi a concessão de status de economia de mercado à China, em troca do apoio daquele país para que o Brasil conseguisse um lugar no Conselho de Segurança da ONU. O apoio não veio. "O governo brasileiro foi pueril", disse. Outro ponto destacado pelo líder foi a derrota do embaixador Luiz Felipe Seixas Corrêa, apoiado pelo Brasil, na disputa para a Organização Mundial do Comércio.
Virgílio também lembrou a derrota do ex-ministro João Sayad para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (o Brasil recebeu quatro dos nove votos). Na lista de Vírgílio, está a Cúpula América do Sul - Países Árabes, realizada pelo Brasil em 2005 "numa espécie de tentativa de rivalizar com a liderança de Bush", onde, segundo o tucano, "houve desfile de ditadores".
O líder do PSDB citou ainda: o voto do Brasil contra Israel no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em 2006 (quando, no ano anterior, tinha se recusado a condenar o Sudão por proteger uma milícia genocida que havia praticado os massacres de Darfur), o argumento de Amorim para o fracasso da rodada de Doha ("A culpa é dos Estados Unidos, e pronto, está tudo resolvido"), o apoio à entrada da Venezuela no Mercosul, as barreiras comerciais impostas pela Argentina, o desrespeito do Paraguai ao Tratado de Itaipu e o "sequestro" de brasileiros pelo Equador.
A "simpatia absurda pela ditadura do Irã, que quer enriquecer urânio acima de 20%, para construir a bomba atômica", é o 14° suposto equívoco da política externa brasileira apontada por Virgílio, seguida da "tolerância com a ditadura da Coreia do Norte", o "desprezo" para com presos políticos que estão morrendo em greve de fome e, por fim, as "seguidas gafes" de Lula em Israel.
A ação dos tucanos na CRE contou com DEM e com o reforço do ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL), senador que integra a CRE e tem feito oposição sistemática à política externa do governo Lula. Collor foi duramente contra a aprovação da entrada da Venezuela no Mercosul e, recentemente, pediu vistas das indicações de embaixadores para aquele país e para o Equador, protelando o exame dos nomes.
Ontem, Collor criticou o fato de as mensagens presidenciais com as indicações de embaixadores serem enviadas ao Senado com a assinatura eletrônica de Amorim. Collor sugeriu, inclusive, que as indicações pendentes fossem devolvidas ao Executivo. "Os documentos devem voltar para que o ministro, entre um rega-bofe e outro, possa por as assinaturas e chancelar as indicações", disse Collor.