Título: Sob pressão interna, EUA propõem sanções ao Irã
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2010, Internacional, p. A10
de Washington
Os Estados Unidos anunciaram ontem um acordo com outros membros permanentes do Conselho de Segurança (CS) da ONU para impor sanções ao Irã, país suspeito de desenvolver um programa nuclear militar em desacordo com tratado internacional. A investida americana ocorreu um dia depois de Brasil, Turquia e o próprio Irã terem anunciado um entendimento que, teoricamente, visava exatamente evitar sanções. Para levar adiante as punições, os americanos precisam ainda da concordância de quatro dos dez países que ocupam cadeiras rotatórias no conselho, além da ratificação do apoio pelos demais membros permanentes. Fontes diplomáticas brasileiras ouvidas pelo Valor sinalizaram que o país deverá votar contra o projeto de resolução patrocinado pelos Estados Unidos, mas avaliam que os americanos não terão muita dificuldades para angariar os votos necessários para sua aprovação. Ontem mesmo, os Estados Unidos apresentaram, em Nova York, a minuta do acordo aos membros não permanentes do CS. "O Brasil não vai entrar em nenhuma discussão sobre essa minuta agora, pois achamos que existe uma situação nova", disse a embaixadora brasileira na ONU, Maria Luiza Viotti. "Há um acordo assinado [anteontem] que é muito importante." Embaixadores de Rússia e China na ONU sinalizaram que apoiam as sanções propostas. Os americanos já vinham há alguma meses negociando sanções ao Irã com os membros permanentes, principalmente China e Rússia. Mas os esforços se intensificaram nas últimas horas, como forma de dar uma resposta rápida ao acordo patrocinado por Brasil e Turquia, que foi interpretado dentro dos Estados Unidos como um fracasso da diplomacia do presidente Barack Obama. A imprensa e os analistas mais conservadores identificaram um suposto golpe do Irã para ganhar tempo e, assim, levar adiante o seu alegado projeto de construção de armas nucleares. A falta de pulso firme na área de segurança nacional poderia prejudicar o Partido Democrata nas eleições legislativas deste ano, num momento em que a crise econômica e a alta do desemprego já minam a popularidade de Obama. "Essé é uma resposta convincente aos esforços feitos pelo Irã nos últimos dias", afirmou ontem a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, ao Senado. Diplomaticamente, Hillary disse considerar "sinceros" os esforços feitos por Brasil e Turquia para uma solução negociada. Mas ponderou que o regime iraniano estava tentando utilizá-lo como artifício para escapar das sanções sem assumir compromissos concretos de recuar no seu programa nuclear. A embaixadora americana na ONU, Susan Rice, não indicou quando a minuta será votada. É pouco provável, porém, que seja neste mês, já que a presidência do CS está com o Líbano, país com forte presença muçulmana. Mas em junho assume o México. Além de EUA, China e Rússia, também têm assento permanente no CS a França e o Reino Unido. O plano de sanções anunciado ontem tem ainda apoio da Alemanha, grupo que forma o chamado P5+1. Entre os membros que ocupam cadeiras não permanentes estão países muçulmanos, como Bósnia, Nigéria, além de Turquia e Líbano. Há, porém, outros países mais próximos dos EUA, como México, Japão, Áustria, Uganda e Gabão. O pacote de sanções negociado pelos Estados Unidos se concentra principalmente no setor financeiro, impedindo a abertura de filiais de bancos iranianos no exterior, e também na área militar, embargando a venda de armas e equipamentos militares. Comércio de forma geral e investimentos na área de petróleo, assuntos que interessam à Rússia e à China, estão de fora. Oficialmente, os países envolvidos nas negociações afirmaram que a preocupação foi retaliar o governo iraniano, mas sem causar prejuízos à população do país. Pelo acordo patrocinado pelo Brasil, o Irã entregaria urânio pouco enriquecido a um país neutro, a Turquia, e receberia urânio mais enriquecido. O acordo, porém, permite ao país continuar enriquecendo urânio.